Carvalho
da Silva* – Jornal de Notícias, opinião
Só
faltam seis dias de campanha eleitoral, que se querem de discussão política
pura e dura. Estas eleições presidenciais precisam de uma segunda volta. A
possibilidade é hoje real, desde que se discutam com verdade e acutilância os
problemas e desafios com que se debatem o portugueses e o país. A eleição do
presidente da República (PR) - o mais alto magistrado da nação - deve ser encarada
como um ato de grande responsabilidade, que exige informação e análise
política, seriedade e lucidez nas escolhas.
A
tarefa que nos é colocada é mesmo a de escolher alguém que nos próximos cinco
anos irá fazer política no patamar mais elevado. Precisamos de eleger alguém
honesto e rigoroso na interpretação da Constituição da República. Alguém que
assuma os valores que estruturam a nação portuguesa, que ancoram os objetivos
de vida digna e os interesses coletivos no presente e no futuro. A experiência
mostra-nos que o PR tem um papel muito significativo na política interna e
externa do país e que da sua ação resultam impactos no quotidiano das condições
de vida de cada português.
Cavaco
Silva foi desastroso no exercício das suas funções, em particular no último
mandato, exatamente o período em que o povo mais precisava de uma voz e de uma
ação fortes que desmontassem as injustiças, as calúnias, os roubos e a pobreza
a que foi sujeito. O triunvirato Governo PSD/CDS-Cavaco-troika constituiu como
que entidade única que transformou o interesse nacional no interesse dos nossos
credores (e até agiotas); que obrigou ao empobrecimento porque "vivíamos
acima das nossas possibilidades", quando o setor financeiro havia feito
escapulir, para os bolsos de alguns privilegiados, mais de 40 mil milhões de
euros da poupança dos portugueses em menos de dez anos; que preparou um
retrocesso no nosso modelo de desenvolvimento através do enfraquecimento das
políticas de saúde, do ensino, da segurança e proteção social, da justiça, ou
da "exportação" de centenas de milhares de jovens, cuja saída se virá
a confirmar como grave amputação dos recursos do país.
Porque
Cavaco Silva se portou mal é hoje generalizada a sua reprovação pelos
portugueses e portuguesas, mas é também razão para o candidato apresentado à
sociedade portuguesa como seu sucessor por grandes meios de propaganda -
Marcelo Rebelo de Sousa - não querer, de forma alguma, ser identificado com ele
e com as políticas e compromissos a que esteve ligado. Num cenário destes não
restava aos partidos da Direita e às forças mais retrógradas outra solução para
além da descaracterização da função de PR, criando a ideia de que um qualquer
pantomineiro simpático pode ser PR deste país.
Mas,
alerta: Marcelo foi toda a vida um político de Direita - umas vezes catalogado
à direita da Direita, outras à esquerda da Direita, conforme as conveniências
dos tempos -, amiúde acusado (até por correligionários seus) de ser pouco
fiável e de ter atração fatal pela conspiração política. Durante os últimos
cinco anos os seus comentários políticos, depois de filtrados, mostram-nos uma
contínua defesa das políticas do triunvirato que mencionei. Nem sempre o fez
abertamente, porque é mestre a lançar uns pingos de verdade no lastro das
maiores trapaças.
Por
certo, nestes seis dias de política os candidatos à esquerda vão fazer tudo
para mobilizar os portugueses através de propostas honestas e, simultaneamente,
obrigarem Marcelo a sair do campo das trivialidades e a despir os seus
disfarces.
A
sociedade portuguesa precisa de profundas transformações sociais e políticas:
ora, só pode construir pontes entre todas as forças e setores da sociedade para
conseguir esse objetivo quem estiver livre de identidades e de dependências com
os velhos poderes que nos subjugaram durante muitos anos, quem abertamente
assumir a interpretação e a afirmação das causas, valores e compromissos dos
cidadãos mais desprotegidos e dos setores da sociedade mais frágeis.
António
Sampaio da Nóvoa, pelas causas, valores e compromissos que assume, tem todas as
condições para ser o maior congregador dos votos de amplos setores
democráticos, para passar à segunda volta e ser eleito presidente da República.
*Investigador
e professor universitário
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