segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Brasil: UM BALANÇO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

 


Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir – com foto
 
As eleições municipais foram sobredeterminadas pelas eleições de São Paulo. Em primeiro lugar porque é o centro dos dois partidos mais importantes do Brasil nas últimas duas décadas. Em segundo, pelo peso que a cidade tem no conjunto do país – pelo seu peso econômico, por ser sede de dois dos 3 maiores jornais da velha mídia. Esse caráter emblemático foi reforçado porque o candidato opositor ao governo federal foi o mesmo candidato à presidência derrotado há dos anos, enquanto o candidato do bloco do governo federal foi indicado pelo Lula, que se empenhou prioritariamente na sua eleição. E pelo fato de que São Paulo era o epicentro do bloco da direita, que se estendia ao Paraná, Santa Catarina e aos estados do roteiro da soja, no centro oeste do Brasil

As eleições municipais tiveram claros vencedores e derrotados. O maior vencedor foi o governo federal, que ampliou o numero de prefeituras conquistadas pelos partidos que o apoiam, mas principalmente conquistou cidades importantes como São Paulo e Curitiba, arrebatadas ao eixo central da oposição. Ao mesmo tempo que a oposição seguiu sua tendência a se enfraquecer a cada eleição, ao longo de toda a ultima década, perdendo desta vez especialmente a capital paulista, mas também a paranaense e em toda a região Sul, Sudeste e Centro Oeste, em que os tucanos não conseguiram eleger nenhum prefeito nas capitais.

No plano nacional, avança claramente a base aliada, com dois dos seus partidos fortalecendo-se: PT e PSB e enfraquecendo-se relativamente o PMDB. Houve uma certa fragmentação no interior da base aliada e mesmo no bloco opositor, mas nada que mude a tendência, que se consolida ao longo da década, da hegemonia do bloco governamental, apontando a que nas eleições de 2014 Dilma apareça como a franca favorita,

A eleição de São Paulo se dá na contramão da tendência que se havia consolidado nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, em que o Nordeste, de bastião da direita, se havia tornado bastião da esquerda, pelo voto popular dos maiores beneficiários das politicas sociais que caracterizam o governo federal desde 2003. Por outro lado, se havia deslocado o bastião da direita para os estados mais ricos do sul, do sudeste e do centro-oeste, com São Paulo – onde os tucanos tinham a prefeitura e o governo do Estado – como eixo fundamental desse bloco opositor.

A derrota em São Paulo, a nova derrota do seu ex-candidato duas vezes à presidência e a incapacidade de eleger sequer um prefeito em toda essa região, demonstra como a direita se enfraquece também onde concentrava seu maior apoio.

Por outro lado, somando erros do PT e campanhas com forte apoio de governos estaduais que detem, aliados do governo derrotaram o PT em várias cidades importantes entre elas Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, como as mais significativas. Somente em um caso – Salvador – essa derrota se deu para a direita. Revela erros – em alguns casos gravíssimos do PT, como Salvador e Recife – do PT e limitações da ação de Lula e de Dilma para compensar esses erros. Um grande chamado de atenção sobre fraquezas do PT, sem que afete em nada a projeção eleitoral presidencial para 2014.

A derrota em São Paulo é um golpe duro para os tucanos, que sempre contavam com um caudal grande de votos paulistas para ter chances de compensar os votos do nordeste dos candidatos do PT e agora se veem enfraquecidos em toda a região onde antes triunfavam. Eventuais candidatos presidenciais como Aécio – quase obrigado a se candidatar, embora com chances muito pequenas de um protagonismo importantes, quanto mais ainda de vencer – ou Eduardo Campos – sem possibilidades de se projetar como líder nacional foram dos marcos do bloco do governo, que já tem Dilma como candidata para 2014 -, são objeto de especulações jornalísticas, à falta de outro tema, mas tem reduzidas possibilidades eleitorais.

O julgamento do processo no STF contra o PT foi um dos temas centrais de Serra e revelou sua escassa influência eleitoral diante da imensidade dos problemas das cidades brasileiras e do interesse restrito da população, apesar da velha mídia tentar fazer dele o tema central do Brasil. Nas urnas, o povo demonstrou que sua transcendência é muito restrita a setores opositores e à opinião publica fabricada pelos setores monopolistas da velha mídia. Os implicados no julgamento ao basicamente dirigentes paulistas do PT, mas a eleição em São Paulo demonstrou como o julgamento e a influência da velha mídia continuam a ser decrescentes.

Outros temas podem ser analisados a partir do resultado eleitoral, mas eles não alteram em nada fundamental o transcurso da politica brasileira, que segue centrada em torno da resistência do governo aos efeitos recessivos da crise capitalista internacional, para elevar os índices de crescimento da economica e seguir expandindo as políticas sociais.
 

1 comentário:

Anónimo disse...

O grande metamorfose ambulante, já chamado de deus por Marta Suplicy, aquele que saiu com mais de cem por cento de aprovação do governo, reinventor do Brasil, Lula, sim é dele que falo, acredita que é o santo das causas perdidas, o semeador de postes.

Sim, Fernando Haddad foi eleito em São Paulo, com um terço dos votos do eleitorado total. Outro terço não votou em ninguém. Creio que, apesar da interpretação contrária de petistas, o mensalão pesou, sim, nestas eleições. Haddad não foi eleito pela maioria.

Por que o Mensalão não pesaria? O povo acha que ser corrupto é normal? Este não é o pais onde agora existe a Lei da Ficha Limpa? Este não foi, ao menos até recentemente, o pais do partido dono da Ética, o próprio PT?

Assim como Lula não pode dizer que o paulista é idiota e não liga para o Mensalão, o que dirá sobre as vexaminosas derrotas que sofreu em Manaus, em Salvador, em Campinas, em Diadema, e em outras capitais e cidades medias? Que foi culpa do Mensalão?

No primeiro turno o PT já havia sido derrotado fragorosamente em Porto Alegre e de forma estrondosa em Recife, onde Lula impôs seu candidato na marra. Assim como em São Paulo, onde deixou Marta furiosa (bem, nem tanto, só até ganhar um ministério). Aí, relaxa e goza.

Lula não pode provar que o PT não foi afetado pelo Mensalão em São Paulo, assim como não pode provar que a derrota de seu partido em outras cidades importantes do Brasil não tem nada a ver com o mesmo escândalo. Embora eleições municipais sejam caracterizadas por um eleitorado mais focado nos problemas de seu quintal, creio que muita gente um pouco mais informada já está cheia de ver a política tomada por corruptos.

Mais lidas da semana