Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Nas jornadas
parlamentares, Miguel Relvas voltou a ser o centro das atenções. Tudo o que foi
dito pelos seus colegas e por ele próprio serviu para achincalhar o homem.
Teixeira da Cruz disse que os políticos tinham de ser um exemplo. Toca a fazer
pouco do ministro. Nuno Crato falou de rigor e exigência. Tudo a humilhar o
licenciado em ciência política. O próprio disse que a sua vida é transparente,
recomeça o tiro ao Relvas. Há uma remodelação, agitam-se as damas ofendidas
porque o ministro não faz companhia aos secretários de Estado. Confesso que me
começa a cansar. Há uma diferença entre a crítica política e a perseguição.
Sim, os políticos
devem ser um exemplo. Sim, como disse o senhor ministro, ele é um exemplo de
transparência. É ou não Miguel Relvas um livro aberto para os portugueses? De
quantos políticos se pode fazer um retrato tão cristalino? De quantos podemos
falar, sem receio de cometer uma injustiça, sobre os seus valores éticos e a
sua conduta? Fossem todos os políticos como Miguel Relvas e nunca mais um
português poderia dizer que comprou gato por lebre.
Sim, está chegado o
tempo de, na Universidade, haver rigor e exigência. Mas o que soubemos a semana
passada sobre o curso de Miguel Relvas? Que teve equivalência a três cadeiras
que não existiam. E ficam desagradados? Preferiam que fosse a cadeiras
existentes? Há ou não há, por parte de Relvas, uma vontade de proteger o bom
nome da Academia? Ter equivalência ao que não existe não é o mesmo que não ter
nada? Ser doutor em coisa nenhuma, quando não se estudou, é ou não é uma
demonstração de rigor?
Há um ambiente
pesado no governo. Nota-se que aquela gente anda abatida. Apenas três exceções:
Vítor Gaspar, que se está a transformar num maratonista do sound bite; Santos
Pereira, que, como uma criança, continua a brincar no meio de um velório; e
Miguel Relvas, a quem a simplicidade de espírito protege de todas as tormentas.
Quando lhe falaram de remodelação, sorriu com a despreocupação de quem, mesmo
devendo, nada teme. Claro que o podem remodelar, disse ele mostrando os dentes
de satisfação. Ele sabe que será o último a sair. Que os vai a enterrar a
todos. Que ainda muita privatização passará pela sua secretária até que volte à
vida civil. Sabe que, faça o que fizer, nada o fará tremer. Um governo tão
fragilizado, precisa ou não de alguém que tenha esta autoconfiança?
O País tomou Miguel
Relvas de ponta. Por todo lado há gente que o manda estudar. Relvas não
precisa. É catedrático na escola da vida. O que este país precisava era de um
Relvas em cada esquina. A vender rolexes fanados e saúde política.
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