segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Portugal: TRATAM TÓZÉ SEGURO COMO SE FOSSE LORPA

 


Paulo Gaião – Expresso, opinião, em Blogues
 
Para aparentar que está tudo bem entre si, Passos Coelho e Paulo Portas foram para cima de António José Seguro com um pedido para se atirar ao rio com uma reforma do Estado Social e despedimentos na Função Pública. Tudo embrulhado no chavão da "refundação" do memorando da troika com o objectivo de reduzir a despesa.
 
A lata é livre e não paga imposto mas incomoda sempre um pouco quererem fazer de nós lorpas ao quadrado. Será que o problema também é nosso, deve pensar Seguro? (no interior do PS, António Costa também já tentou fazer o mesmo com ele mais do que uma vez)
 
É evidente que a resposta do líder do PS só podia ser uma. Obrigadinho amigos mas o PS não vai nessa. No final, é ele quem sai beneficiado.
 
Dão-lhe a oportunidade para declarar solenemente que não contem com ele para desmantelar o Estado social (como antes já não contavam com o PS para privatizar a CGD ou votar o OE para 2013)
 
É assim que Seguro factura votos. O PS aparece como o garante da Constituição contra os despedimentos sem justa causa na Função Pública e defende os pensionistas. Conquista votos do PCP ao CDS. E muitos ao PSD, o partido por excelência do centrão onde vota a classe média que é funcionária pública e os pensionistas. As próximas sondagens devem já mostrar novos indicadores de aumento da distância dos socialistas em relação ao PSD.
 
No interior do PS, é assim que Seguro fortalece a sua liderança (para além do factor supremo da subida nas sondagens). Não deixa que manobradores se façam mais à esquerda do que ele na defesa do Estado social.
 
A posição de Seguro também favorece o sistema político português, separando águas entre o PSD mais neo-liberal de sempre e o PS que caminha na linha do Guterres mais social ou da liderança de Ferro Rodrigues.
 
É evidente que Portugal não é ainda um país onde um candidato possa dizer, como disse Miit Romney, que não fala para os 47% de eleitorado que dependem do Estado sem ser severamente punido nas urnas (como acontecerá ao PSD porque os 47% dos EUA aqui passam para 60 ou 70%).
 
Mas o extremismo neoliberal de Passos (contra Cavaco e a ala socializante do PSD) fará certamente o seu caminho, auxiliado pela diminuição gradual mas inevitável nos próximos anos do peso do Estado nas despesas públicas e crescimento esperado do sector privado.
 
Quanto à proposta de refundação do memorando, Passos bem pode esperar sentado pelo PS.
 
Foi Sócrates, já demissionário, quem chamou a troika e assinou em primeiro lugar o documento porque teve que ser. O papel (ingrato) do PS acabou aqui.
 
Agora é a vez de outros amargarem. Há um governo em plenitude de funções, com maioria no Parlamento, que tem legitimidade para optar entre várias soluções. Ou refundir sozinho o memorando. Ou mantê-lo e aplicar as medidas de abate da despesa pública que lá estão (como a redução para metade dos concelhos portugueses). Ou até assinar um segundo documento no quadro de um segundo pacote de resgate. Das três opções, venha o Diabo e escolha.
 
O PS vai tentar assistir na bancada. O cavaquismo-barrosismo também, após chegar à conclusão que só tinha a perder em meter-se num governo de iniciativa presidencial se há quem vá gerindo a dor até às eleições legislativas alemãs de 2013 e a um plano à séria de reestruturação da dívida dos países periféricos.
 

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