Paulo Gaião –
Expresso, opinião, em Blogues
Para aparentar que
está tudo bem entre si, Passos Coelho e Paulo Portas foram para cima de António
José Seguro com um pedido para se atirar ao rio com uma reforma do Estado
Social e despedimentos na Função Pública. Tudo embrulhado no chavão da
"refundação" do memorando da troika com o objectivo de reduzir a
despesa.
A lata é livre e
não paga imposto mas incomoda sempre um pouco quererem fazer de nós lorpas ao
quadrado. Será que o problema também é nosso, deve pensar Seguro? (no interior
do PS, António Costa também já tentou fazer o mesmo com ele mais do que uma
vez)
É evidente que a
resposta do líder do PS só podia ser uma. Obrigadinho amigos mas o PS não vai
nessa. No final, é ele quem sai beneficiado.
Dão-lhe a oportunidade
para declarar solenemente que não contem com ele para desmantelar o Estado
social (como antes já não contavam com o PS para privatizar a CGD ou votar o OE
para 2013)
É assim que Seguro
factura votos. O PS aparece como o garante da Constituição contra os
despedimentos sem justa causa na Função Pública e defende os pensionistas.
Conquista votos do PCP ao CDS. E muitos ao PSD, o partido por excelência do
centrão onde vota a classe média que é funcionária pública e os pensionistas.
As próximas sondagens devem já mostrar novos indicadores de aumento da
distância dos socialistas em relação ao PSD.
No interior do PS,
é assim que Seguro fortalece a sua liderança (para além do factor supremo da
subida nas sondagens). Não deixa que manobradores se façam mais à esquerda do
que ele na defesa do Estado social.
A posição de Seguro
também favorece o sistema político português, separando águas entre o PSD mais
neo-liberal de sempre e o PS que caminha na linha do Guterres mais social ou da
liderança de Ferro Rodrigues.
É evidente que
Portugal não é ainda um país onde um candidato possa dizer, como disse Miit
Romney, que não fala para os 47% de eleitorado que dependem do Estado sem ser
severamente punido nas urnas (como acontecerá ao PSD porque os 47% dos EUA aqui
passam para 60 ou 70%).
Mas o extremismo
neoliberal de Passos (contra Cavaco e a ala socializante do PSD) fará certamente
o seu caminho, auxiliado pela diminuição gradual mas inevitável nos próximos
anos do peso do Estado nas despesas públicas e crescimento esperado do sector
privado.
Quanto à proposta
de refundação do memorando, Passos bem pode esperar sentado pelo PS.
Foi Sócrates, já
demissionário, quem chamou a troika e assinou em primeiro lugar o documento
porque teve que ser. O papel (ingrato) do PS acabou aqui.
Agora é a vez de
outros amargarem. Há um governo em plenitude de funções, com maioria no
Parlamento, que tem legitimidade para optar entre várias soluções. Ou refundir
sozinho o memorando. Ou mantê-lo e aplicar as medidas de abate da despesa
pública que lá estão (como a redução para metade dos concelhos portugueses). Ou
até assinar um segundo documento no quadro de um segundo pacote de resgate. Das
três opções, venha o Diabo e escolha.
O PS vai tentar
assistir na bancada. O cavaquismo-barrosismo também, após chegar à conclusão
que só tinha a perder em meter-se num governo de iniciativa presidencial se há
quem vá gerindo a dor até às eleições legislativas alemãs de 2013 e a um plano
à séria de reestruturação da dívida dos países periféricos.
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