terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Portugal: BESgate



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

A verve anti-políticos sofre uma derrota com a Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES. A Comissão, composta na sua maioria por deputados bem preparados, está a mostrar ao país os meandros de uma zanga entre poderosos que revela a rede mafiosa em que se sustenta. Não quero com isto dizer que espero um relatório conclusivo desta Comissão. Para obstar a que isso suceda teremos uma maioria de deputados - alguns concomitantemente assalariados do GES - encarregues de tratar da sua ineficácia. Mas esses foram quem a maioria dos portugueses que votou nas últimas eleições decidiu eleger.

Um regime podre como o nosso pode ser derrubado de duas formas: por um processo revolucionário ou pela desagregação e decadência dos seus poderosos. O caso BES personifica a segunda hipótese. Ricardo Salgado, aquele que o "Negócios" considerava como a terceira pessoa mais importante no país, já deixou claro que não cairá sozinho. Das suas declarações sobram os avisos. Quando Salgado torna público que cinco pessoas receberam comissões no negócio dos submarinos e quatro eram da família, o quinto feliz agraciado tremerá. Por outro lado, na comissão de inquérito, Salgado envolveu de uma forma propositada e irremediável Cavaco Silva ao referir que mantinha conversas com o Presidente da República sobre o banco. Ou seja, a tese ensaiada por Belém de que nada sabia aquando da sua declaração de confiança no BES dez dias antes da derrocada, pode não ser verdadeira.

Estamos pois perante um caso em que a própria Comissão devia poder chamar o Presidente da República para depor. A declaração de Salgado e o facto de ter sido revelado durante a semana que os membros do grupo GES foram os principais financiadores da campanha presidencial de Cavaco em 2011 (17% do total obtido), levam a que o Presidente da República tenha de dizer um pouco mais do que escudar-se num lacónico: "matéria reservada".

Escreve à segunda-feira

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