terça-feira, 28 de abril de 2015

Portugal. NÃO NOTICIAR ELEIÇÕES É DEFENDER A LIBERDADE?



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

Uma data de campeões da luta pela liberdade de imprensa trucidaram PS, PSD e CDS por terem cozinhado um esboço ridículo para uma lei estúpida, vilmente antidemocrática, na qual se previa um visto prévio do Estado ao plano de cobertura das televisões, rádios e jornais às campanhas eleitorais. Das palmadas dadas a Inês de Medeiros, Carlos Abreu Amorim e Telmo Monteiro só tenho pena daquelas que erraram o alvo. Bem feito!

Não vi, porém, nenhum desses jornalistas, tão corajosos a denunciar o putativo ato censório, protestar contra uma posição expressa, dizem repetidas notícias não desmentidas, pela Plataforma de Meios Privados: se a lei avançasse, televisões, rádios e jornais dessa associação patronal, em que se encontra o grupo de media que me paga o salário, não dariam notícias sobre a próxima campanha eleitoral...

O quê?! SIC, TVI, TSF, Rádio Renascença, Expresso, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Público e Correio da Manhã, por ordem dos seus patrões, deixariam de cobrir um ato eleitoral nacional?!

Os donos dos media, em nome da defesa da liberdade editorial, recusariam noticiar a candidatura de centenas de milhares de cidadãos a cargos públicos do Estado? Recusariam informar o povo sobre a única forma institucional que ele tem para definir o destino do seu governo? Isto é sensato? É democrático?...

Pinto Balsemão, Proença de Carvalho, Pais do Amaral, Paulo Azevedo, Paulo Fernandes, o patriarcado, patrões e líderes das administrações destes grupos de media, pensam assim? É a multa de 50 mil euros que os empurra para uma espécie de greve selvagem? Custa-me a crer. Terá sido uma reação "a quente" de Luís Nazaré, o diretor da Plataforma de Meios, que não foi devidamente avaliada?...

Alcides Vieira, Sérgio Figueiredo, Paulo Baldaia, Graça Franco, Ricardo Costa, André Macedo, Afonso Camões, Bárbara Reis e Otávio Ribeiro, os diretores dos órgãos de comunicação social envolvidos, obedeceriam a uma ordem administrativa, patronal, de censura às eleições? Certamente que não, felizmente. E os Conselhos de Redação destes órgãos? Ficariam calados? Também não, estou certo.

Na semana passada faltou a crítica a esta visão, tão míope sobre a vida de uma sociedade democrática quanto a dos deputados que queriam ressuscitar a censura prévia. É pena, tinha-nos ficado bem.

Agora, por outro lado, já que estamos mais calmos, não devíamos discutir o serviço que prestamos nas campanhas eleitorais para torná-lo, simplesmente, jornalisticamente entusiasmante, útil e exemplar? Isto sim, seria uma bofetada inteligente nos políticos patetas e um tiro certeiro contra as limitações à liber-dade que sempre nos ameaçam e sempre nos ameaçarão.

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