segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EXPLOSÃO DA MISÉRIA




JOSÉ INÁCIO WERNECK, Bristol – DIRETO DA REDAÇÃO

Bristol (EUA) – A população mundial comemorou, se é que a palavra correta é esta, o nascimento da criança que nos colocou no pedestal de sete bilhões de habitantes. Segundo alguns, nasceu na Rússia, segundo outros, em Bangladesh.

O local não importa, o planeta é um só. Mas vejam a relação de países que tem os maiores índices de fertilidade do mundo: Níger, com 7,07 filhos por mulher, Mali, com 6,52, Afeganistão, com 6,48, Timor Leste com 6,38, Somália, com 6,35, Uganda, com 6,25, Chad, com 6,08, República Democrática do Congo, com 5,91, Burkina Faso, com 5,84, Libéria, com 5,81, Zâmbia, com 5,74, Guiné-Bissau, com 5,66, Angola, com 5,64, Nigéria, com 5,60, Tanzânia, com 5,52, Malawi, com 5,46, Benin, com 5,38, Ruanda, com 5,33, Guiné, com 5,33, Guiné Equatorial, com 5,28, Etiópia, com 5,21, Serra Leoa, com 5,17, Yemen, com 5,10, Gâmbia, com 4,97, Moçambique, com 4,97.

O que todos estes países tem em comum? A miséria, o atraso cultural. Quase todos os acima citados constituem os chamados países sub-saarianos da África, o Yemen está ali ao lado, depois aparecem Afeganistão, que dispensa apresentações, e Timor Leste, colonizado por nossos amigos portugueses, que recentemente passou por uma guerra de secessão para se tornar independente da Indonésia.

Como já escrevi aqui nesta coluna, a partir de uma advertência do Clube de Roma, em 1968, o mundo passou a viver a preocupação da explosão populacional.

Mas o que se verificou aos poucos é que nos países desenvolvidos o fenômeno passou a se inverter. O índice de fertilidade necessário para manter a população estável é de 2,1 filhos por mulher. Dois porque duas crianças substituem o pai e a mãe. O decimal “1” por causa da mortalidade infantil em um nível irreduzível.

O Brasil é a maior prova deste fenômeno. Em 1970 tínhamos um índice de fertilidade de 5,8 filhos por mulher. Nossa população explodia. Em 2011, com o desenvolvimento econômico do país, passamos a ter um índice de fertilidade de 1,94 filhos por mulher.

Abaixo da taxa de reposição. A população do país ainda não começou a encolher pela ocorrência da inércia. Em outras palavras, há um elevado número de adultos ainda em idade fértil, nascidos em fins da década de 60 e início da década de 70, que continuam a fazer a população aumentar, embora em ritmo lento. Esta “bolha” porém vai se reduzindo e a partir de 2020 entraremos em declínio.

Declínio que já existe em países como Finlândia, Albânia, Rússia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda, Itália, Espanha, Alemanha, Hungria, Portugal, Áustria, Letônia. Alguns destes países, como a Rússia, já adotaram programas de incentivo à natalidade, pois caso contrário sua população vai desaparecer. A França, que se encontra no limiar do declínio populacional, já adotou tais medidas há algum tempo e por isto sua população ainda não começou a decrescer.

Para tornar a situação mais grave, os países que experimentam a explosão populacional tem tradições culturais, como casamentos arranjados pelos pais e casamentos entre adolescentes, que agravam a tendência. São nações em que um terço de meninas já estão casadas ao chegarem aos 14 anos.

Se o mundo quer realmente controlar a explosão populacional, deve ajudar tais países, muitos com “governos” que só existem em nome, a saírem do subdesenvolvimento econômico e do atraso cultural. É necessário ainda que grupos religiosos do ocidente deixem de condenar o uso de anti-concepcionais.

*É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut.

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