sábado, 10 de janeiro de 2015

China: Macau considerada a melhor cidade para se viver. Residentes com dúvidas



FILIPA ARAÚJO – Hoje Macau

Macau é o melhor território para se viver na China, como diz um estudo recente. Mas, a falta de espaço e a habitação fazem alguns residentes da RAEM colocarem as suas dúvidas sobre isto, ainda que há quem diga mesmo que Macau é o melhor sítio para se estar

* com Flora Fong

acau é a melhor cidade – entre cem da China – para se viver. Esta é a conclusão de mais um estudo feito à qualidade de vida da sociedade do território, desta vez levado a cabo pelo Instituto de Competitividade da Ásia da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, da Universidade de Singapura. Mas, quem por cá vive tem sérias dúvidas sobre o resultado.

Divulgado em Dezembro do ano passado, o estudo está dividido em duas partes: Macau como território para se viver e Macau aos olhos da competitividade. Os resultados são diferentes: no primeiro, a RAEM lidera a lista das cem cidades da China, onde se encontram locais como Hong Kong, Nanjing, Zhuhai e Taiwan. Na segunda área de análise, Macau não consegue atingir o pódio, fixando-se na posição número 10, dentro de 36 cidades.

O estudo classifica as cidades chinesas mais adequadas para viver de acordo com vários aspectos, tais como a vitalidade da economia, a protecção ambiental, a sustentabilidade, a segurança, a situação cultural e social e ainda a acção governamental.

PALAVRA DE RESIDENTE

Para Sio Chi Wai, deputado e presidente do Centro de Pesquisa Estratégica para o Desenvolvimento, o aumento de espaços verdes e a possibilidade de se conduzir futuramente para a Ilha da Montanha irão reforçar a ideia de que o território é uma das melhores regiões para se viver.

Contudo, na visão do presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, Leong Chong Hang, não basta apenas observar os vários critérios, “mas sim o desenvolvimento total”. Para o responsável, “uma boa cidade dá atenção ao seu desenvolvimento integrado”. Comparando com a cidade vizinha de Zhuhai, Leong Chong Han considera que Macau está pior, tendo em causa aspectos como a habitação e a existência de jardins.

“Acho que uma cidade adequada para viver é classificada de forma geral, a meta final é atingir um equilíbrio. Apenas dois índices com nota superior não podem significar um nível adequado”, defendeu.

Se Carlos Marreiros, arquitecto macaense, diz mesmo que não trocaria Macau por outro lugar, a verdade é que também admite que há espaço para melhorar.

“Não somos um mar de rosas principalmente na habitação”, reconhece. Quanto à sustentabilidade económica é fácil compreender, diz o arquitecto, que “está para durar”. Classificando o PIB per capita do território de “invejável”, o arquitecto assume que não trocaria Macau por qualquer outro local, seja pela parte económica ou social, tal como a segurança. “Podermos sair a qualquer hora do dia ou da noite, andar por qualquer rua é realmente espectacular”, frisa.

Apesar de achar que há espaço para melhorar também a nível cultural, nomeadamente ao nível da cultura, Carlos Marreiros assume: para si, “Macau é o melhor sítio do mundo”.

“NÃO CORRESPONDE À VERDADE”

Teresa Vong, docente da Universidade de Macau (UM), arrisca mesmo dizer que o resultado “não corresponde à verdade”. “Macau não é, a meu ver, um território bom para se viver”. E vários são os exemplos e argumento utilizados pela académica: “Comecemos logo pelo espaço. Não há espaço para os residentes locais aos fins-de-semana, por exemplo. As ruas ficam cheias de turistas, são invadidas por multidões e é impossível andar na rua”, frisa.

Quem também está em desacordo com o resultado é a deputada Kwan Tsui Hang, que em pouco concorda com o estatuto ganho por Macau. “Não concordo com o resultado do relatório, nem com os critérios. Macau é um território pequeno, o espaço é cada vez menor, as instalações sociais são insuficientes. Como é que pode ser o melhor para viver?”, questiona.

Se António José Freitas, provedor da Santa Casa de Misericórdia, se assume satisfeito com os resultados, já Albano Martins deixa alertas.

Para o provedor da Santa Casa desde sempre existe em Macau “paz social” e sobretudo “tolerância política e religiosa”, o que na sua opinião “é muito importante no contexto político do sudeste asiático. Também na área de segurança interna, António José Freitas considera que estão reunidas as “condições” para a estabilidade de Macau. A segurança, diz, permite “um dia a dia tranquilo para a generalidade da população”.

Para Albano Martins, economista, “para já” Macau é ainda um local fácil para se viver. Mas isso é algo que poderá mudar mais rápido do que aquilo que se pensa.

“Na minha opinião, como residente, acho que ainda é fácil de se viver em Macau, coisa que não irá acontecer daqui a cinco anos, por exemplo. Quero com isto dizer que se o Governo não tomar medidas para resolver questões como a habitação, o tráfego ou os espaço para os empreendedores, ao analisarmos Macau daqui a cinco anos, veremos que iremos estar bem piores do que agora”, conclui.

COMPETITIVOS MAS POUCO

Relativamente à competitividade, Macau – segundo o relatório – fica em décimo lugar, enquanto a cidade de Cantão lidera a lista. Hong Kong perdeu lugares, comparativamente ao estudo anterior, fixando-se em quinto lugar. O que se deve, segundo académicos envolvidos no estudo, aos “atritos interiores sociais e conflitos entre grupos étnicos”.

Em análise neste capítulo estiveram quatro critérios, sendo eles, a estabilidade da economia, o nível de implementação da economia de mercado, a capacidade financeira e a eficiência de produtividade das empresas.

Contudo, há alertas que partem de quem por cá vive. “Relativamente à competitividade, os residentes de Macau devem mudar o modelo de vida através da cooperação entre regiões”, diz, em declarações à rádio, Leong Chon Hang.

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