quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Angola: A QUALIDADE DA ALFABETIZAÇÃO



Jornal de Angola, editorial

A erradicação do analfabetismo em Angola é um grande objectivo das autoridades, que, ao optar pela massificação da alfabetização, abriu caminho para que todos os cidadãos pudessem ter acesso ao saber, na convicção de que, com as pessoas alfabetizadas e com a possibilidade que o nosso sistema de ensino dá para aumentarem conhecimentos, o país pode desenvolver-se mais rapidamente.

Os  investimentos na educação constituem uma opção que visou não só permitir que as crianças em idade escolar possam frequentar um estabelecimento de ensino, como também  assegurar que adultos que não tiveram acesso à escola pudessem ter uma oportunidade de aprender a ler e a escrever e de, por via do aumento contínuo de conhecimentos, adquirir competências necessárias para  terem o domínio de uma profissão ou, já tendo uma profissão, aprimorá-la, para que esta se reflicta positivamente em actividades produtivas.

O que se está a fazer em Angola, em termos de alfabetização de adultos, não é  ensinar para constar apenas das estatísticas. Ensina-se aos adultos porque o país precisa de muitos quadros para os grandes desafios que temos ao nível do processo complexo de criação das condições  necessárias à construção de uma Angola desenvolvida.

Se atentarmos no facto de que uma parte considerável dos adultos que vão às aulas de alfabetização têm menos de 30 anos de idade, pode-se concluir que há no país um segmento de alfabetizandos que, depois de terminarem cursos de alfabetização e de adquirirem mais conhecimentos pós-alfabetização, podem dar por muitos anos a sua contribuição à reconstrução do país.

Há entidades públicas no país encarregadas  da formação técnico-profissional que têm absorvido muitos  jovens, tendo muitos deles aprendido a ler e a escrever em aulas de alfabetização, o que justifica a importância que se dá no país a este subsistema de ensino.

A alfabetização constitui um segmento do ensino que deve continuar a merecer o apoio das instituições do Estado com competências para melhorá-lo continuamente, a fim de termos um subsistema de ensino de adultos que proporcione a estes as bases sólidas para poderem prosseguir os estudos sem grandes dificuldades de adaptação aos níveis de escolaridade subsequentes.

Importa pois que se façam balanços regulares do que se faz ao nível das campanhas de alfabetização, para se poder detectar eventuais debilidades, em diferentes vertentes, com a preocupação de se garantir qualidade. É um exercício necessário avaliar de tempos em tempos o trabalho que se realiza ao nível da alfabetização. É bom trabalhar tendo em vista a obtenção de resultados. E estes resultados devem ser verificados para se saber se estamos ou não no caminho certo. Costuma-se dizer que se deve aprender com os erros.  Há pois que haver disponibilidade para corrigir o que deve ser corrigido, de forma oportuna. 
 
Se se tiver em conta que os que acabam os cursos de alfabetização vão potencialmente continuar a estudar, porque são jovens, há que cuidar bem da sua preparação básica  com vista a obterem bons resultados em estudos posteriores, se decidirem concluir o ensino médio e mesmo o superior.

Não deve haver apenas a preocupação de se alfabetizar um elevado número de cidadãos. É preciso olhar para mais longe, no sentido de prevermos que esses adultos que são hoje alfabetizados em grande quantidade têm a legítima pretensão de atingirem amanhã níveis de escolaridade mais avançados, que lhes possam proporcionar uma carreira profissional, com as vantagens que isso pode significar, nomeadamente  em termos de oportunidades de emprego.

As campanhas de alfabetização devem ser tidas em conta quando se fazem reflexões ou se  tomam medidas para melhorar a qualidade do nosso ensino em geral. A alfabetização deve também fazer parte das preocupações em relação ao que se faz em matéria de ensino, não se devendo relegar para segundo plano um subsistema que tem de ter permanentemente pernas para andar, a fim de se tirar muitos milhares de angolanos do analfabetismo.

A prioridade que se dá ao ensino deve consistir em práticas que coloquem o processo de alfabetização  num patamar que esteja à altura da sua importância no contexto dos esforços que se fazem para superarmos o subdesenvolvimento. É necessário, por exemplo, cuidar da formação dos alfabetizadores, que constituem recursos humanos decisivos para o êxito das campanhas de alfabetização. Outra questão a não subestimar tem a ver com as infra-estruturas para  o ensino de adultos, as quais devem estar  na medida do possível próximo  da (ou na) área dos alfabetizandos. Vale também aqui  o princípio de maior proximidade dos serviços públicos às populações.

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