quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Portugal: PCP CONSIDERA “FISCALIZAÇÃO E REGULAÇÃO BANCÁRIAS UMA FARSA”




O PCP arrasa a atuação dos reguladores no caso BES/GES, considerando que o seu desempenho foi "incompetente e ineficiente". Diz ainda que as responsabilidades do Governo e do presidente da República são "evidentes", na medida em que "produziram intervenções públicas com a clara intenção de reforçar a confiança dos investidores e dos depositantes" no banco, quando já tinham informação sobre o estado de desagregação e degradação das holdings e empresas do Grupo Espírito Santo e da exposição do BES a esses problemas.

"A fiscalização e a regulação são uma farsa para tranquilizar os depositantes e as populações", disse, esta quinta-feira, o deputado do PCP, Miguel Tiago, num balanço dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES que, em seu entender, já permite retirar algumas conclusões sobre o que conduziu a mais este colapso de um banco, mesmo após a criação do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e do Comité Nacional para a Estabilidade Financeira, que inclui o Ministério das Finanças.

"A existência de sociedades sedeadas em paraísos fiscais e a impossibilidade de controlar o seu uso gera uma falha incontornável na regulamentação e regulação do sistema financeiro, independentemente da capacidade e poder do regulador. Tudo não passará de um embuste enquanto existir livre circulação de capitais e um enorme buraco negro, onde tudo se afunda e confunde, sem qualquer tutela ou fiscalização", disse, referindo-se à existências das "off-shores".

Contudo, o PCP considera que o Banco de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários poderiam ter feito muito mais do que fizeram para "interromper o descalabro em curso do BES/GES".

"Os sucessivos alertas dos auditores externos, mesmo quando tímidos, muitas vezes em linguagem cifrada, deveriam ter motivado da parte dos reguladores medidas sobre a concessão de crédito e outros fluxos de capital a entidades em off-shore e em jurisdições não cooperantes", disse Miguel Tiago, em conferência de imprensa na Assembleia da República. Lamenta que essas entidades não tenham ido além da "produção de recomendações" e acusa o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, de ter estado mais preocupado em "não agitar os mercados" do que em fazer cumprir a lei.

O PCP aponta o dedo também à troika, que foi incapaz de ver o "gigantesco buraco de 4,9 mil milhões de euros" no BES, e aos regimes extraordinários de regularização tributária (RERT), "que confirmaram ser instrumentos de ocultação de ilegalidades financeiras, absolvendo e recompensando o crime fiscal".

O deputado do PCP denunciou também vários "obstáculos" que têm sido levantados ao funcionamento da Comissão de Inquérito, designadamente a "resistência" do Banco de Portugal em enviar documentos pedidos ou disponibilizando-os apenas parcelarmente, a indisponibilidade para prestar depoimento por parte de personalidades como Durão Barroso, Carlos Moedas e Vítor Constância, ou a incapacidade para contactar responsáveis como Joaquin Almunia, ex-comissário europeu envolvido na solução para o BES.

Gina Pereira – Jornal de Notícias – Foto Manuel de Almeida, Lusa

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