quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

QUITO, DAMASCO E HOMS: A CIDADANIA RESISTENTE

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - O Equador passa por um momento de profunda transformação. Conservando as suas identidades culturais (as hispânicas e as autóctones) o país constrói uma sociedade em que o Homem sobreponha-se ao Capital. É evidente que esta difícil tarefa conta com a oposição da oligarquia, que coloca a indústria mediática a atacar o rosto visível da grande transformação em curso: o Presidente Rafael Correa. Correa é retratado na imprensa oligárquica (e nas poucas vezes em que a industria mediática internacional não ignora o Equador) como um “novo caudilho”.
 
Os sete anos de revolução Cidadã não foram fáceis, nem isentos de desilusões. Quando a Revolução iniciou a sua marcha, o país estava destroçado. Em dez anos o Equador conheceu sete presidentes e em 1999 passou pela pior crise da sua História. Nunca foi um país com tradição migratória, mas nesse período de crise, cerca de dois milhões de equatorianos abandonaram o Equador. Províncias inteiras sofreram um processo intensivo de desertificação. Na província de Chimborazo, por exemplo, mais de 50% das crianças foram criadas sem conhecerem os pais, o que originou um fenómeno crescente de suicídio infantil. Por sua vez os que emigravam (maioritariamente para Espanha) não podiam regressar porque ficaram ilegais nos países onde buscaram trabalho.
 
Em sete anos muita coisa mudou, principalmente a atitude. A Revolução Cidadã demonstrou que o país pode ser diferente. O factor de coesão social foi reactivado em torno de um projecto nacional de desenvolvimento real, não aquele desenvolvimento que apenas se reflecte nas estatísticas do PIB, nas carteiras dos ricos e nos cartões de crédito das suas madames, mas um desenvolvimento social, que reflectiu o crescimento económico na sociedade equatoriana. A Revolução Cidadã aposta numa sociedade do conhecimento como chave do futuro e iniciou profundas transformações na Educação.    
 
A soberania dos recursos foi um outro passo fundamental. A transformação do Equador irá inserir o país na economia-mundo. Um país que aposta num mercado gerido pela sociedade (e não uma sociedade dominada pelo mercado), que aposta no bem-estar, na dignidade e na liberdade dos seus cidadãos e na necessidade de conhecimento, fonte criadora de uma sociedade cosmopolita e pluridimensional.
 
Os centenários atavismos culturais estão em fase de superação (este é sempre um processo lento e melindroso). A desigualdade no género e a violência doméstica são apenas dois exemplos que merecem a maior atenção por parte do executivo equatoriano e onde se revelam já alguns avanços significativos. As mulheres equatorianas estão ocupando espaços que ainda na década passada eram impensáveis. A presidente do parlamento equatoriano é a presidente parlamentar mais jovem do mundo e os membros do Supremo Tribunal de Justiça são eleitos em função das regras de equidade do género. Actualmente 40% do executivo do país é formado por mulheres. Estes factores são emblemáticos e exemplificativos das alterações culturais em curso.
 
Em aberto permanece a questão do aborto e o matrimónio homossexual, questões que ganham espaço de discussão nos fóruns públicos e nas ruas, como movimentos reivindicativos de direitos.
 
II - O combate á pobreza e a diversificação da matriz produtiva são dois factores essenciais nas políticas de desenvolvimento preconizadas pela Revolução Cidadã. Neste sentido as questões ambientais são de primordial importância para este país. Também aqui o combate á pobreza é levado a cabo, pois esta é um dos principais factores que afectam o meio ambiente. A principal fonte de comunicação de água potável do Equador não é o petróleo, nem a mineração, mas sim os resíduos dos esgotos e as águas não tratadas, consequências dos atrasos e da ausência de sistemas de sanidade pública e da imensa proliferação dos bairros pobres em torno das cidades principais do país.
 
É na política ambiental que é travado um braço de ferro com as transnacionais. Um caso que se encontra no tribunal de Haia e que opõe a Chevron ao governo equatoriano é um exemplo dos combates que as nações em processo de emancipação económica têm de realizar pela soberania dos recursos. É provável que a decisão do tribunal de Haia seja contrária ao Equador e favorável á Chevron, mas é não se pode esquecer que estas instituições judiciais foram criadas pelo Capital e em função da defesa dos seus interesses. Essa é uma frente de batalha que os países em processo de emancipação terão de resolver em conjunto durante a sua caminhada pelo desenvolvimento. No caso do Equador a integração no âmbito da América Latina é a via a seguir, pois apenas com a integração os Estados da região poderão criar mecanismos de comércio livre e justo, contrapondo os seus interesses aos do Capital.    
 
As recentes negociações entre o Equador e a U.E. são elucidativos deste problema que os Estados isolados têm de enfrentar, quando a questão seria muito diferente se os mercados fossem integrados. A principal produção não petrolífera do Equador é a banana. Ora, com a assinatura de um tratado de livre comércio entre a Colômbia e a U.E. a banana colombiana ficou a um preços mais baixo que o da equatoriana. Este é um dos muitos casos em que os países da região vêm os seus interesses afectados ao assinarem tratados bilaterais. A Colômbia vende mais banana a um preço mais baixo, afectando os seus produtores internos e afectando os países vizinhos, que vêem-se na obrigação de baixar os preços ou de reduzir a produção, o que implica problemas de diversa ordem como aumento do desemprego, descontentamento, instabilidade, etc.. Com esta política, neste caso, lucra a U.E. que compra as bananas mais baratas. As políticas de integração dos mercados latino-americanas urgem em cada dia que passa porque o desenvolvimento desta região passa por um processo transformador que deverá afectar a região no seu todo, de forma a colmatar as assimetrias.
 
Inerentes aos processos emancipadores e às suas dinâmicas de transformação e de desenvolvimento, são as “doenças infantis”. No caso do processo equatoriano a “crise de infantilidade” assentou a creche e o ATL em alguns sectores ecologistas e em diversos grupos “verdes”, associações ambientalistas, etc..Se fossem levadas a sério as políticas propostas por estes sectores (a “Esquerda das sementes”, ou outras tendências folclóricas da esquerda burguesa – “revolucionários” soft, produtos da ética dominante, “politicamente correcta” - que pretende separar a questão ambiental da guerra de classes) o Equador morreria de forme para preservar os recursos naturais (e o país recuaria no tempo, provavelmente até á época das civilizações pré-colombianas).
 
Os bens ambientais são bens públicos e têm de ser publicamente geridos, porque são bens produtores de sustentabilidade e como tal devem ser considerados. O ar produzido pela selva amazónica é disfrutado em todo o planeta, logo é globalmente consumido, inclusive pelos contaminadores globais, pelos usurpadores de recursos e pelos destruidores de bens ambientais. Não é objecto de privatização, nem de nacionalização, nem de legislação proprietária como a propriedade industrial, intelectual ou outra. Os bens ambientais são públicos, património de todos nós, habitantes desta complexa nave espacial que transporta-nos, abriga-nos e alimenta-nos. O Equador (ou qualquer outro Estado da região amazónica) não poderá vender, nunca, o ar que a selva produz e que é consumido por todos os consumidores do mundo.
 
Também o conhecimento deveria ser um bem publico, universal, acessível e, globalizado. Mas aí o caso muda de figura. Se um qualquer consumidor necessitar de um software tem, depois de o pagar (o que nem sempre é possível, porque muita das vezes não é um produto acessível) e cumprir com uma série de normas e procedimentos de instalação (nas legislações mais fundamentalistas o consumidor se adquirir o software por vias impróprias, como seja comprar uma “versão pirata”, ou “pirateá-lo” está sujeito a multas ou a pena de prisão.
 
Esta política de privatizar o conhecimento, de obrigar a pagar aos consumidores o preço pedido pelo vendedor, de obrigar ao cumprimento de todos os procedimentos definidos por leis referentes á propriedade industrial e intelectual, é a política que o Ocidente utiliza para subordinar (e subornar) a América Latina, África e outras zonas do globo, geralmente depositárias de vastos recursos naturais (e que a ética dominante – a ética “neutral” do politicamente correcto e da “imparcialidade” - considera deficitárias em “recursos humanos”, ou impossibilitadas de potenciar o “capital humano”, zonas habitadas por “gentes”, mas com poucas “pessoas”, no fundo a nova versão do “fardo do homem branco” de Kippling, o poeta do “British Empire” do “Cabo ao Cairo e infinitamente mais além”), através da tecnologia e do know-how (é o savoir-faire que é importantes e não o “laissez-faire” que as elites ocidentais, da direita-nova á esquerda-moderna, andam a propagar e que aprisiona de ilusões as elites africanas com as tragicomédias do “afro-capitalismo” e do “crescimento exponencial africano”, ou com o papel “civilizador dos mercados” na América Latina).     
 
III - No âmbito dos tratados internacionais, o Equador renunciou ao ATPDEA com os USA, o seu principal parceiro comercial. Este acordo significava 50 milhões de USD por ano, a título de compensação pela luta antidroga. Nos últimos anos o ATPDEA foi utilizado pelos USA como um instrumento de chantagem: ou portas-te bem ou retiramos a verba. Quando foi do caso de Snowden, os USA ameaçaram o Equador com a suspensão desta verba, caso o Equador desse asilo a Snowden. A resposta do Equador foi imediata, rompendo com o acordo. Mas as ingerências dos USA são efectuadas a diversos níveis.
 
O National Endowment for Democracy (NDE) financiou, recentemente, uma agencia de noticias. A agência em causa era conhecida pelas suas campanhas em prol da “liberdade de expressão e de informação”. O financiamento não se destinou a uma cooperativa de jornalistas ou a uma agência de informação regional, ou a um órgão de comunicação universitário, enfim a qualquer projecto que tivesse nascido da criatividade dos seus proponentes e que justificasse o financiamento. Não! O financiamento foi para uma agencia que está ligada á oligarquia equatoriana, que goza dos apoios dos mais ricos e que não necessita dos dólares USD da NDE para nada, a não ser para utilizar na campanha contra a Revolução Cidadã, de forma intimidatória, avisando que os “los yanquis están con nosotros”.
 
Para essa gente, liberdade de expressão e liberdade de informação são sinonimo de CNN, FOX e mais algumas siglas de intoxicação mediática, máquinas de destruição massiva, extensões do Imperio e do Capital. Mas não é só por esta via que a ingerência é realizada. A USAID assessorava o Parlamento equatoriano, na criação de leis. Mas que legislação poderia provir de um poder legislativo assessorado pela USAID? Claro está que o actual executivo rompeu com a “parceria”.        
 
Uma comunicação social que cumpra as suas funções, de forma livre e responsável (devendo aqui serem amplos os critérios e os significados) é fundamental em qualquer sociedade (e são casos raros, os existentes). Para que isso aconteça e o direito á informação e de liberdade de expressão não se tornem formalidades e camuflagens, é necessário rever o paradigma: a propriedade privada dos meios de comunicação social (esse paradigma tem de ser revisto em muitos outros sectores, como a saúde, a educação, a habitação, os transportes, etc.).
 
Os cidadãos têm de controlar todo o poder, logo, também, o mediático. Esse controlo não tem nada de controlo sobre a opinião, censura e outras aberrações que hoje praticam-se diariamente sob o signo do direito de informar e de ser informado e da liberdade de expressão. O controlo deve ser exercido nos meios de comunicação privados e nos meios de comunicação estatais, pois são esses que representam interesses muito específicos e que podem constituir (e constituem) monopólios de manipulação e condicionamento da opinião pública.
 
Quando fica patente que a política seguida reflecte-se na soberania dos recursos existe de imediato diversas reacções (da mais encolerizada á mais serena, passando pelos avisos apenas lidos nas entrelinhas) por parte dos Estados hegemónicos e dos grupos transnacionais privados. Um dos instrumentos utilizados pelas potencias externas (Estados e grupos transnacionais privados) e pelos interesses internos (a burguesia nacional apenas aceita a “parceria dos recursos”, seja com o Estado seja com os grupos externos) são as ONG,
 
As ONG detêm no que respeita às questões de soberania dos recursos e na criação de espaços alternativos um papel fundamental…Na ingerência externa e no bloqueio interno (o boicote)! Financiadas a partir do exterior, as ONG, representam diversas funções vitais de infiltração, vigilância, análise e informação a favor dos interesses hegemónicos ou mesmo de interesses privados de grupos multinacionais. Os seus fundos não são controlados e são uns dos instrumentos mais perigosos do neocolonialismo e dos interesses imperialistas.
 
Rodeadas de boas intenções, sempre na base do politicamente correcto, representantes exemplares da nova ética dominante (globalmente mentecapta e sempre bem comportada, isenta e angélica) as ONG internacionais ou nacionais, são, cada vez mais, um espelho daquela velha figura de retórica, tantas vezes empregue na linguagem comum: “Farinha do mesmo saco”! Vejamos a história da maioria das ONG ditas “nacionais” (aquelas que não vêm do exterior montarem estruturas alienígenas, fundamentos da neocolonização cultural): Um candidato perdeu eleições, monta uma ONG financiada a partir do exterior e torna-se “representante da sociedade civil”. Desta forma mandou bugiar o escrutínio popular e prossegue a sua actividade “politico-comercial-filantrópica”, tornando-se um “activista”, um elemento “activo e consciente dos seus deveres éticos”. E causas há muitas: meninos de rua, órfãos, 3ª idade, empreendedorismo, juventude, imensas questões ecológicas e ambientais, animais para proteger, espécies em extinção, formação profissional, guerra, paz, refugiados, pobreza, etc., etc..
 
IV - Os gastos militares do Equador aumentaram nos últimos anos, não devido ao rearmamento, ou ao reequipamento, mas ao aumento dos soldos, dos salários e das condições de vida dos soldados. O objectivo é reduzir os efectivos militares e simultaneamente aumentar a qualidade dos meios defensivos. Quando em 2008 a CIA e o Exército colombiano penetraram em território equatoriano e bombardearam áreas fronteiriças em território colombiano (quando da operação que eliminou o comandante Reys, das Forças Armadas Revolucionária da Columbia – Exército Popular, que refugiara-se no Equador), a agressão não foi detectado devido á inexistência de radares. Actualmente a cobertura de radares abrange todo o território nacional.
 
As Forças Armadas do Equador adquiriram recentemente aviões não pilotados (drones) de tecnologia avançada e de grande valor estratégico. Este processo de modernização das forças armadas faz parte de um mais vasto projecto integral de desenvolvimento cientifico-tecnológico e de diversificação da matriz produtiva. Quando a Revolução Cidadã começou as Forças Armadas possuíam apenas um helicóptero em funcionamento, o que era ridículo atendendo ao facto de 40% do território nacional ser selva e não existirem meios aéreos de vigilância. Hoje a Força Aérea Equatoriana está apetrechada com 18 helicópteros Super Tucano, adquiridos ao Brasil e 12 caças Cheetah, adquiridos em segunda mão á África do Sul.
 
 O Equador foi um dos signatários da declaração “América Latina, Zona de Paz” aprovada pela CELAC. A importância desta declaração reside no conceito de Paz: não só a ausência de guerra, ausência de imposição militar, mas também da imposição das elites, dos sistemas de desenvolvimento geradores de exclusão social e da violência implícita na contradição entre ricos e pobres, entre detentores de propriedade (as várias e diversas camadas e subcamadas burguesas – da grande burguesia de vários sectores á pequena burguesia titubeante, passando pela média burguesia, ora deslumbrada, ora assustada – e os sectores oligárquicos da sociedade equatoriana) e os qua não detêm propriedade (os proletários, conforme indica o seu próprio nome e que hoje ninguém gosta de ouvir falar, sendo diluídos na designação, mais generalista, “pobres”). Nesta declaração da CELAC a paz é entendida como a presença da justiça social, da equidade e da dignidade. Obviamente que a implementação destas condições não é efectuada por decreto ou por uma declaração, mas sim com trabalho quotidiano, no sentido da integração latino-americana.
 
A criação da CELAC foi uma prova      da aspiração latino-americana em procurar a sua emancipação e de se afirmar como igual perante o gigante do Norte, cuja hegemonia, apesar de debilitada, continua a ser um factor de potencial risco para os povos das Américas do Sul, Central e Caribe. A CELAC é um foro multilateral, composto por uma enorme diversidade de interesses (em que alguns estados até têm maior identificação e sólidas relações com os USA), enquanto a UNASUR é um espaço de integração focado na execução de políticas e de criação de infraestruturas e conselhos de defesa.        Por sua vez a MERCOSUR é um espaço regional de integração dos mercados, de importância vital para a região. A estas estruturas de integração contrapõe-se a Aliança do Pacifico, uma criação dos USA que reúne os sectores contrários ao rumo da integração. É evidente que a integração latino-americana implicará uma nova dinâmica nos mercados do Pacifico o que constitui uma ameaça á geoeconomia dos USA, para a qual o Pacifico é de importância vital (um “mare nostrum”).
 
É fundamental não perder de vista os objectivos políticos, sociais e culturais da integração, mas eles têm de ser realizados de forma pragmática, o que implica avançar com a integração na esfera mais básica de todos os processos históricos de integração, porque a mais necessitada de se posicionar na economia-mundo: os mercados.   
 
V - A milhares de quilómetros do Equador (e a milhares de anos-luz da Revolução Cidadã), os ruídos e o ribombar da artilharia fustigam a velha cidade de Homs, na Síria. A intensidade dos combates destrói a cidade, como se tratasse de uma imensa operação demolidora. Ao contrário de Damasco, onde as lojas estão abertas até á noite e tráfego permanece intenso, mesmo no período nocturno, em Homs as ruas estão desertas.
 
Os bandos armados encontram-se sitiados no distrito de Bab al Sebaa e são formados por cerca de mil combatentes. As marcas de destruição estão espalhadas por toda a cidade, mas este distrito é conhecido por ser a “zona fantasma” devido á destruição provocada pelos combates. É curioso que sempre que os bandos armados estão em apuros, a indústria mediática internacional começa a falar em “ajuda humanitária” seguindo o guião escrito pela NATO e pelos oligarcas do Golfo. Em Homs não faltam alimentos, mas sim armas e munições, para resistir á agressão estrangeira e às forças internas a soldo do imperialismo.
 
Homs, cidade e província, é muito idêntica ao Líbano, no que respeita ao mosaico cultural. A religião (islâmicos sunitas e xiitas, cristãos de diversas matizes) e os grupos étnicos (alauitas, curdos, arménios) constituem partes do mosaico e muitas vezes são apenas pontas visíveis de um imenso e complexo icebergue. Os alauitas constituem o grosso da Força de Defesa Nacional, milícias pró-governamentais do partido BAAS e combatem ao lado do Exército Sírio, das milícias xiitas do Hezbollah e das milícias curdas.
 
Já os bandos armados são compostos maioritariamente por sunitas, que habitam no distrito de al-Waar, onde se encontram refugiadas mais de 400 mil pessoas, que ficaram numa situação difícil, pois o al-Waar é um distrito sitiado e esta é uma área da cidade que é merecedora de alguma atenção humanitária, embora – curiosamente – não seja referida nos relatórios da ajuda humanitária, que refere Homs de uma forma abstracta, não sabendo muitas vezes se esses relatórios referem Homs como cidade ou Homs como província.               
 
A província de Homs alberga pouco mais de um milhão e setecentas mil pessoas. O representante local da UNICEF, Godfrey Ijumba, refere a existência de cerca de 600 mil desalojados e que a UNICEF distribuiu roupa de inverno a meio milhão de habitantes. Homs converteu-se em assunto internacional na Conferencia de Paz de Genebra II, até agora produtora de impasses políticos e diplomáticos.
 
Não sei se os ecos da Revolução Cidadã chegarão á Síria, mas sei que os sírios aspiram á Paz, desde que seja mantida a soberania e a integridade do país. Quando a Paz chegar e a agressão terminar, os sírios estarão em condições de realizar, de forma soberana, as transformações necessárias para que a Síria assuma o seu destino de acordo com as decisões da soberania popular. Até lá o som das armas permanecerá sendo a única busca possível de paz e a luta contra a agressão imperialista constitui-se em prioridade.
 
Se no Quito sopram os ventos da emancipação, em Damasco as tempestades tomam conta dos céus…Mas, no fundo, Quito, Damasco, Homs estão juntas nas aspirações por um mundo diferente. Pelo menos um mundo onde parem as agressões e se deixe de ouvir o troar dos canhões. Um mundo onde a vida seja um acto de dignidade e não uma constante humilhação. Mesmo que os caminhos para lá chegar sejam diversos, difíceis e impliquem longas caminhadas e complexas encruzilhadas.   
 
Fontes
The Independent, February, 5, 2014
Wall Street Journal February, 3, 2014
 

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