quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

UNIÃO EUROPEIA VOLTA AO ZIMBABWE



Roger Godwin – Jornal de Angola

Treze anos depois da imposição de sanções económicas ao Zimbabwe, como uma manifesta forma de pressão política sobre o Presidente Robert Mugabe, a União Europeia (UE) entregou um cheque de 270 milhões de dólares ao governo zimbabweano destinado a financiar alguns projectos de carácter social.

Trata-se do primeiro financiamento que os 28 países membros da União Europeia aceitaram entregar directamente ao governo zimbabweano para que este o possa gerir directamente sem a intervenção fiscalizadora da entidade doadora, facto que foi devidamente sublinhado pelas autoridades de Harare.

É evidente que a entrega destes 270 milhões de dólares pode ser o primeiro passo para o reatamento normal das relações entre o Zimbabwe e a União Europeia mas, no entanto, está longe de ser o início do fim do ostracismo a que os europeus votaram o Presidente Mugabe.

A atestar isto está o facto, considerado “muito preocupante” pelo governo zimbabweano, que tem a ver com a manutenção das sanções políticas que ainda pendem sobre a família Mugabe que continua, por força dessas determinações, impedida de viajar para território europeu. Tentando separar, aparentemente, as relações económicas das políticas, a União Europeia continua a ter em relação ao Zimbabwe um posicionamento que configura uma continua pressão política, com o objectivo, cada vez mais claro, de influenciar a sua gestão em termos de liderança e de programa de governo.

Ao condicionar essa ajuda de 270 milhões de dólares no sentido dela ser direccionada para projectos sociais, a União Europeia transmite a ideia de se querer aproveitar da fragilidade económica do país para condicionar o seu programa de acção sufragado em 31 de Maio de 2013 com mais de 62 por cento dos votos da população e expressos em eleições legislativas e presidenciais internacionalmente consideradas como tendo sido exemplares.

Ao receber o cheque dos 270 milhões de dólares, o ministro zimbabweano das Finanças, Patrick Chinamasa, considerado como sendo da “linha dura” da ZANU-PF de Robert Mugabe, foi claro ao dizer que a ajuda é bem vinda, mas que, por si só, não é razão suficiente para relançar definitivamente as relações entre as duas partes. Chinamasa lamentou que a União Europeia continue a querer condicionar a liderança política de Robert Mugabe, mantendo o impedimento dele poder viajar para território europeu e criando balizas para orientar a forma de aplicação deste financiamento.

Mas a verdade é que desde há alguns meses que se vinha assistindo como que a um “namoro discreto” entre o Zimbabwe e alguns países da União Europeia, conduzido no sentido de encontrar mecanismos personalizados de cooperação e que não ferissem as determinações e condicionalismos impostos pela União Europeia a alguns dos seus membros.

Desde sempre a Inglaterra e mais recentemente a França e a Alemanha estavam a relacionar-se com algumas empresas privadas zimbabweanas no sentido do estabelecimento de parcerias que servissem os interesses comuns e não afectassem as negociações em curso com a própria União Europeia. Logo no início de 2013 que o governo zimbabweano aguardava com alguma impaciência que a União Europeia desse um passo no sentido de reconhecer os esforços que Harare estava a fazer no sentido de reconquistar a confiança perdida em 2002, altura em que entraram em vigor as já referidas sanções que, com algum pudor, apelidaram de económicas mas que, inquestionavelmente, sempre tiveram um forte cariz político. Depois da realização das eleições de 31 de Maio de 2013 que o governo zimbabweano suspirava pelo levantamento das sanções, uma vez que o pleito havia obedecido aos preceitos exigidos por Bruxelas.

A verdade é que, por uma razão ou por outra, a União Europeia foi buscando argumentos políticos para dilatar no tempo o cumprimento da promessa feita, limitando-se a suavizar algumas das medidas impostas a partir de 2002 mas que, reconhecidamente, estavam – como ainda estão – longe de ir bem ao fundo da questão.

O passo agora dado, com a entrega de um financiamento de 270 milhões de dólares, foi, para a União Europeia, difícil de dar, por representar um importante esforço económico com escassos dividendos políticos, pelo menos no imediato.

Mas, para o Zimbabwe, tratou-se de uma ajuda importante que ajuda a resolver alguns problemas imediatos, mas que, por razões óbvias, fica longe de responder àquelas que eram as suas melhores expectativas.

Nessas expectativas estão o reatamento normal e sem condicionalismos das relações com a União Europeia, o que obrigava a que esta organização reconhecesse, de forma explícita e com todo o seu envolvimento, a legitimidade da liderança política de Robert Mugabe, libertando-o, assim, dos impedimentos que sobre ele pesam para poder viajar livremente para onde muito bem entender.

Foi só devido à grave crise económica e financeira, que afectam o seu quotidiano, que o governo do Zimbabwe se viu quase “obrigado” a receber este cheque de 270 milhões de dólares, com os quais conta resolver alguns dos problemas da sua população.

Sem comentários:

Mais lidas da semana