As
eleições legislativas podem produzir o primeiro Governo de coligação da
História.
As
eleições legislativas de domingo em Cabo Verde vão ficar na História — é uma
ideia consensual entre jornalistas e analistas do país. Por muitas razões, mas
a primeira delas é que pela primeira vez não haverá uma maioria. Os indicadores
(na falta de sondagens credíveis) dizem que os dois principais partidos, o
Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, de esquerda) e o
Movimento para a Democracia (MpD, mais centrista), deverão ter votações muito
próximas.
Se
assim for, pode emergir um outro cenário inédito, que é a possibilidade de,
pela primeira vez, Cabo Verde ter um governo de coligação, com a participação
da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID), partido que
ideologicamente está próximo do PAICV e que nas últimas legislativas, em 2011,
se afirmou como a terceira força política do país, ainda que elegendo apenas
dois deputados para o Parlamento.
Uma
última possível novidade: se o PAICV se mantiver no poder, Cabo Verde terá pela
primeira vez uma mulher na chefia do Governo, Janira Hopffer Almada.
A
incerteza, explica a análise de Leston Bandeira no site Africa Monitor é esta:
“Na hora de depositar o boletim, pesará mais para o povo cabo-verdiano a
mudança para melhor da última década ou as dificuldades económicas dos anos
mais recentes?”
Nos
últimos dias de campanha, Janira Almada, sempre acompanhada pelo
primeiro-ministro José Maria Neves, que cessa funções depois de 15 anos no
cargo, sublinhou a ideia de ser a candidata que representa as mudanças que
foram feitas e que vão beneficiar o país no futuro. Apresentou-se, por isso,
como a candidata dos jovens. E acusou o seu principal adversário, Ulisses
Correia e Silva — a quem Neves chamou “aquele outro” —, de ter copiado o
programa de desenvolvimento do PAICV e de se apresentar com ele às eleições, um
documento chamado “10 compromisso da década”.
Já
este, acentuou o que não foi feito e sublinhou a crise mais recente que, disse,
também foi produto da governação do PAICV.
Dizem
as análises que quem vai decidir as eleições em Cabo Verde são os indecisos e
os jovens. Foram estes últimos os mais prejudicados pela crise dos
últimos anos, em que se assistiu a um pequeno decréscimo da taxa global de
desemprego (16,8% em 2012) mas ao aumento do número de jovens sem trabalho (35,8%
no mesmo ano).
Janira
Hopffer Almada disse que tem condições para criar 15 mil postos de trabalho por
ano durante os próximos cinco anos. Para isso, avançou com a promessa de dar
benefícios fiscais às empresas, entre elas as de turismo, para inventivar a contratação
dos mais jovens.
Ulisses
Correia e Silva garantiu também que há condições para criar 45 mil empregos na
próxima legislatura. Quer dar também incentivos às empresas, eliminando por
cinco anos a contribuição para a Segurança Social das que empregarem jovens.
“Durante
seis anos, o PAICV criou 4500 postos de trabalho. Vir prometer 25 mil ou 45 mil
em cinco anos é obra”, disse o líder da União Caboverdiana Independente e
Democrática, António Monteiro.
Resta
saber se as promessas irrealistas — é outro dado consensual, sobretudo quando
se olha para a previsão de crescimento da economia de 7% avançada pelo MpD —
terão impacto suficiente junto do eleitorado para que um dos partidos se
sobreponha claramente ao outro. As percepções dizem que não, mas será um deles
— o PAICV que venceu as três últimas eleições ou MpD, que governou na década
seguinte — a eleger o próximo primeiro-ministro.
Público,
ontem
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