segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Portugueses na Suíça preocupados com resultado de referendo sobre imigração

 


Portugueses residentes na Suíça manifestaram-se preocupados com o futuro depois do resultado do referendo que hoje legitimou a introdução de restrições à entrada de imigrantes na Federação Helvética.
 
O "sim" ao endurecimento da política de imigração suíça, que prevê restrições que abrangem cidadãos de países da União Europeia, ganhou com 50,34% dos votos, num referendo em que a participação superou os 50%.
 
O conselheiro das comunidades portuguesas na Suíça, Manuel Beja, disse à Lusa que o resultado do referendo "não coloca unicamente em causa o acordo de livre circulação de pessoas entre a União Europeia e a Suíça, mas é também um momento de grande preocupação quanto ao futuro das comunidades emigrantes assim como da própria economia suíça, tão dependente deste fluxo de mão-de-obra".
 
Marília Mendes, responsável dos associados portugueses do sindicato suíço UNIA, está "dececionada mas não surpreendida" dado que nos últimos dias a tendência a favor da iniciativa era forte.
 
"As consequências não serão imediatas (...), mas existirão. Os portugueses perderão muitos dos direitos adquiridos com a entrada em vigor dos acordos com a União Europeia" disse.
 
Alberto, 61 anos, é eletricista, chegou à Suíça com a mulher e o filho há cinco anos e recebeu há quatro anos uma autorização de residência temporária, válida por cinco anos. Agora está à espera de uma autorização de residência permanente, mas receia conseguir o documento.
 
"Quando cheguei não imaginava isto. A Suíça é um país de imigrantes (...) mas agora devido à crise já se esperava uma coisa parecida porque, entre os países de Europa, a Suíça é que estava melhor. (...) Só espero que as pessoas que estão cá possam ficar. Não sei como vai ser para pessoas que estão cá há pouco tempo, como eu", disse à Lusa.
 
Maria, 57 anos, é gerente de um restaurante, está na Suíça há 35 anos e conhece bem a situação que agora ameaça muito imigrantes.
 
"Até me arrepiei, nunca pensei que isto fosse acontecer. Nos primeiros anos em que vim cá, as autoridades cancelaram as autorizações e ficámos sem papéis, sem direitos. Muita gente perdeu seu emprego", disse Maria, que obteve a sua autorização de residência permanente há 25 anos e está a gora a considerar pedir a nacionalidade suíça.
 
"Tenho mais vontade de pedir a nacionalidade porque tenho medo que um dia me tirem tudo o que investi aqui", afirma.
 
Depois da divulgação dos resultados do referendo, o Conselho Federal, o governo suíço, anunciou o compromisso de "começar sem tardar os trabalhos para aplicar a decisão do povo", apesar de ter recomendado o voto no "não".
 
A maioria dos votos favoráveis às restrições à imigração concentrou-se nos cantões de língua alemã, mas foi no cantão de Ticino, de expressão italiana, onde o "sim" teve mais votos, 68,2%.
 
Os cantões de Genebra, Basileia-cidade, Vaud e Neuchâtel rejeitaram a iniciativa com respetivamente 60,9%, 61%, 61,1% e 60,7% dos votos expressos.
 
As novas disposições pretendem limitar o número de autorizações de residência para estrangeiros através de um sistema de quotas e contingentes anuais.
O próximo passo para os políticos suíços será o de definir o número de estrangeiros que serão aceites anualmente e os critérios de admissão para que a nova legislação entre em vigor dentro de três ou quatro anos.
 
"O resultado de hoje indica um mal-estar da população provocado pelas vagas crescentes de imigração nestes últimos anos", refere um comunicado do Conselho federal sobre o resultado do referendo.
 
O presidente da Confederação Helvética, Didier Burkhalter, indicou que o Conselho Federal irá examinar nos próximos dias a politica europeia da Suíça, já que o resultado de hoje afeita as relações Suíça-União Europeia.
 
VYE // JMR – Lusa – foto WALTER BIERI/KEYSTONE
 

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