Pequim,
23 jun (Lusa) - Restaurantes de Yulin, sul da China, voltaram a servir carne de
cão para celebrar o início do verão, ignorando os crescentes protestos de
organizações amigas dos animais, mas a tradição parece estar a perder adeptos.
Como
todos os anos, no solstício de verão, aquela povoação da província de Guangxi
organizou no fim de semana um Festival de Carne de Cão, iguaria servida com
líchias e regada com aguardente de cereais, que segundo crenças locais, "é
muito fortificante", melhora a circulação sanguínea e combate a
impotência.
Também
todos os anos, grupos de defesa dos direitos dos animais voltaram a pedir a
proibição do festival, mas o governo local argumentou que se trata de uma
tradição enraizada na população.
Trata-se
igualmente de uma fonte de receita para os criadores de cães e os restaurantes
que os compram para cozinhar neste dia.
Milhares
de cães - as estimativas citadas na imprensa variam entre 2.000 e 10.000 - são
cozinhados durante o festival.
No
sábado passado, um quilo de cão chegou a atingir o preço recorde de 50 yuan
(cerca de 6 euros), disse um jornal. (Um quilo de porco, uma das carnes mais
consumidas na China, custa metade daquele preço).
Ativistas
de outras regiões da China deslocaram-se a Yulin para protestar contra a
realização do festival, tendo-se até registado confrontos físicos com
proprietários dos restaurantes, referiu a agência noticiosa oficial chinesa
Xinhua.
Uma
mulher de Tianjin, norte da China, disse ter comprado mais de 200 cães, por
cerca de 450 yuan (50 euros) cada um, evitando assim que os animais acabassem
no prato.
"Não
podemos impedir a população de celebrar esta festa tão antiga, mas à nossa
maneira podemos salvar muitos cães", disse a mulher à Xinhua.
Um
responsável dos serviços municipais de Saúde de Yulin citado pela Xinhua
indicou que 17 restaurantes da povoação deixaram de servir carne de cão e
quatro outros foram proibidos de o fazer.
Quarenta
e oito restaurantes locais continuam, contudo, a confecionar aquele prato.
"Embora
haja residentes que não desistem da tradição, as vendas durante o festival de carne
de cão caíram", afirmou o China Daily.
Num
editorial dedicado ao assunto, aquele jornal defendeu que "as pessoas têm
liberdade de comer o que quiserem desde que não seja proibido", afirmando
que "os amigos dos cães não podem considerar-se moralmente superiores aos
outros".
Em
Pequim, Xangai e outras grandes cidades chinesas, milhões de famílias,
sobretudo da nova classe média, têm cães em casa e tratam-nos com estimação,
restaurando o que nas primeiras décadas de Governo comunista era considerado
"um hábito burguês".
Segundo
uma revista chinesa da especialidade, em 2009 - catorze anos depois de o
Governo ter autorizado cães de estimação dentro das zonas urbanas - havia 58
milhões em 20 cidades e o número aumentava 30% ao ano.
Em
Pequim, a licença para ter cão (apenas um por cada casal) custa no primeiro ano
mil yuan (120 euros), o que corresponde a mais de metade do salário mínimo
mensal na cidade.
AC
// VM - Lusa
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