Fidel
Castro – Diário Liberdade, 17 Outubro 2014
Domingo,
dia 12 de outubro, pela manhã, a edição dominical na internet do New York
Times– órgão de imprensa que em determinadas circunstâncias traça pautas sobre
a linha política mais conveniente aos interesses de seu país, publicou um
artigo que intitulou "Tempo de acabar o embargo a Cuba"; com opiniões
do que a seu julgamento, deve seguir o país.
Há
momentos em que tais artigos são assinados por algum prestigiado jornalista,
como alguém a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente nos primeiros
dias de nossa luta em
Sierra Maestra com os restos de uma força que tinha sido
quase totalmente eliminada pela aviação e pelo exército de Batista. Éramos
então bastante inexperientes; nem sequer concebíamos que dar essa impressão de
fortaleza à imprensa constituía algo que pudesse merecer uma crítica.
Não
era bem como pensava aquele valente correspondente de guerra com uma história
que lhe deu nome nos tempos difíceis da luta contra o fascismo: Herbert
Matthews.
Nossa
suposta capacidade de luta em fevereiro de 1957 era um pouco menor, porém mais
que suficiente para desgastar e derrotar o regime.
Carlos
Rafael Rodríguez, dirigente do Partido Socialista Popular, foi testemunha do
que, após a Batalha de Jigüe, em que uma unidade completa de tropas seletas foi
obrigada a capitular depois de 10 dias de combate, expressei sobre meu temor de
que as forças do regime fossem se render em julho de 1958, quando suas tropas
de elite se retiravam precipitadamente de Sierra Maestra, apesar de treinadas e
assessoradas pelos vizinhos do norte. Tínhamos encontrado a forma adequada para
derrotá-las.
Era
inevitável estender-me um pouco neste ponto se desejasse explicar o ânimo com
que li o mencionado artigo do jornal norte-americano no domingo passado.
Citarei suas partes essenciais que irão entre aspas:
"...
o Presidente Obama deve sentir angústia ao contemplar o lamentável estado das
relações bilaterais que sua administração tem tentado consertar. Seria sensato
que o líder estadunidense reflita seriamente sobre Cuba, onde uma virada
política poderia representar uma grande vitória para seu governo."
"Pela
primeira vez, em mais de meio século, mudanças na opinião pública estadunidense
e uma série de reformas em Cuba, têm feito que seja politicamente viável
retomar relações diplomáticas e acabar com um embargo insensato. O regime dos
Castro tem utilizado o referido embargo para justificar suas falhas e tem
mantido o seu povo bastante isolado do resto do mundo. Obama deve aproveitar a
oportunidade para dar fim a uma longa era de inimizade, e ajudar um povo que
tem sofrido enormemente desde que Washington cortou relações diplomáticas em
1961, dois anos após Fidel Castro chegar ao poder."
"...o
deplorável estado de sua economia tem obrigado Cuba a implementar reformas. O
processo tornou-se mais urgente a raiz da crise financeira na Venezuela, dado
que Caracas proporciona-lhe petróleo subsidiado. Com o temor de que a Venezuela
tenha que cortar sua ajuda, líderes na ilha dão passos importantes para liberar
e diversificar uma economia que historicamente tem controles rígidos."
"...o
governo cubano começou a permitir que seus cidadãos se empreguem no setor
privado e que vendam propriedades como automóveis e casas. Em março, a
Assembleia Nacional de Cuba aprovou uma lei com o fim de atrair investimento
estrangeiro. (...) Em abril, diplomatas cubanos começaram a negociar os termos
de um tratado de cooperação que esperam assinar com a União Europeia.
Participam das primeiras reuniões preparados, ansiosos e conscientes de que os
europeus vão pedir maiores reformas e liberdades civis.
"O
governo autoritário segue perseguindo dissidentes, que frequentemente são
detidos por períodos curtos. Havana não explicou a suspeita morte do ativista
político Oswaldo Payá".
Como
pode ser apreciada uma acusação caluniosa e gratuita.
"No
ano passado flexibilizaram as restrições de viagem para os cubanos, o que
permitiu que dissidentes proeminentes viajassem ao exterior. Na atualidade,
existe um ambiente de maior tolerância para aqueles que criticam seus líderes
na ilha, mas muitos ainda temem as repercussões de falar abertamente e exigir maiores
direitos".
"O
processo das reformas tem sido lento e tido reveses. Mas em conjunto, estas
mudanças demonstram que Cuba está se preparando para uma era pós-embargo. O
governo afirma que retomaria com gosto as relações diplomáticas com os Estados
Unidos sem condições prévias".
"Como
primeiro passo, a Casa Branca deve retirar Cuba da lista que mantém o
Departamento de Estado para penalizar países que respaldam grupos terroristas. Atualmente, as únicas outras nações na lista são Sudão, Irã e Síria. Cuba foi
incluída em 1982 por seu apoio a movimentos rebeldes na América Latina, ainda
que esse tipo de vínculo já não exista. Atualmente, o governo estadunidense
reconhece que Havana está jogando um papel construtivo no processo de paz na
Colômbia, servindo de anfitrião para os diálogos entre o governo colombiano e
líderes da guerrilha".
"As
sanções por parte dos Estados Unidos à ilha começaram em 1961 com o objetivo de
expulsar Fidel Castro do poder. Através dos anos, vários líderes estadunidenses
têm concluído que o embargo tem sido um erro. Apesar disso, qualquer iniciativa
para eliminá-lo traz consigo o risco de enfurecer membros do exílio cubano, um
grupo eleitoral que tem sido decisivo nas eleições nacionais. (...) a geração
de cubanos que defendem o bloqueio está desaparecendo. Membros das novas
gerações têm diferentes pontos de vista, e muitos sentem que o embargo tem sido
contraproducente para fomentar uma mudança política. Segundo uma recente
pesquisa, 52% de norte-americanos de origem cubana em Miami pensam que deve
terminar o bloqueio. Uma ampla maioria quer que os países voltem a ter relações
diplomáticas, uma posição que compartilha o eleitorado norte-americano em
geral".
"Cuba
e Estados Unidos têm sedes diplomáticas em suas capitais, conhecidas como
seções de interesse, que desempenham as funções de uma embaixada. No entanto,
os diplomatas estadunidenses têm poucas oportunidades de sair da capital para
interagir com o povo cubano e seu acesso aos dirigentes da ilha é muito
limitado".
"Em
2009, a
administração Obama tomou uma série de passos importantes para flexibilizar o
embargo, facilitando o envio de remessas à ilha e autorizando um maior número
de cubanos radicados nos Estados Unidos a viajar à ilha. Também criou planos
que permitiriam ampliar o acesso à telefonia celular e internet na ilha. Mesmo
assim, seria possível fazer mais. Por exemplo, se poderia eliminar as
restrições às remessas, autorizar mecanismos de investimento nas novas
microempresas cubanas e expandir as oportunidades para norte-americanos que
desejem viajar à ilha."
"Washington
poderia fazer mais para respaldar as empresas norte-americanas que têm
interesse em desenvolver o setor de telecomunicações em Cuba. Poucas se
atreveram por temor às possíveis repercussões legais e políticas."
"Por
não fazer, os Estados Unidos estaria cedendo o mercado cubano a seus rivais. Os
presidentes da China e da Rússia viajaram a Cuba em julho tendo em vista
ampliar os vínculos".
"O
nível e envergadura da relação poderia crescer significativamente, dando a
Washington mais ferramentas para respaldar reformas democráticas. É factível
que ajude a frear uma nova onda migratória de cubanos sem esperança que estão
viajando para os Estados Unidos em balsas".
"Uma
relação mais saudável poderia ajudar a resolver o caso de Alan Gross, um
especialista em desenvolvimento que está há quase cinco anos detido na ilha. E
mais ainda, criaria novas oportunidades para fortalecer a sociedade civil, com
as quais gradualmente se diminuiria o controle que exerce o Estado sobre a vida
dos cubanos. Se bem que a Casa Branca pode tomar certos passos unilateralmente,
desmantelar o embargo requereria uma ação legislativa em Washington".
"...
vários líderes do hemisfério se reunirão na Cidade do Panamá por ocasião da
sétima Cimeira das Américas. Vários governos da América Latina fizeram questão
de convidar Cuba, rompendo assim com a tradição de excluir a ilha por exigência
de Washington."
"Dada
a quantidade de crises a nível mundial, é possível que a Casa Branca considere
que dar uma virada substancial em sua política em relação a Cuba não é uma
prioridade. Todavia, uma aproximação com a ilha mais povoada do Caribe que
incentive o desbloqueio do potencial dos cidadãos de uma das sociedades mais
educadas do hemisfério, poderia representar um importante legado para a
administração. Também ajudaria a melhorar as relações dos Estados Unidos com
vários países da América Latina e a impulsionar iniciativas regionais que
sofrem como consequência do antagonismo entre Washington e Havana."
"...
Após o convite a Cuba para a cúpula, a Casa Branca não confirmou se Obama
participará."
"Tem
que fazê-lo. Seria importante que se fizesse presente e considerasse como uma
oportunidade para desencadear uma conquista histórica".
Uma
das sociedades mais educadas do hemisfério!!!! Isso sim que é um
reconhecimento. Mas, por que não diz de uma vez, que em nada se parece ao que
nos legou Harry S. Truman quando seu aliado e grande saqueador do tesouro
público Fulgêncio Batista assaltou o poder em 10 de março de 1952, a somente 50 dias das
eleições gerais. Aquilo não poderá ser esquecido nunca.
O
artigo está escrito, como pode ser apreciado, com grande habilidade, buscando o
maior benefício para a política norte-americana na complexa situação, quando se
acrescentam os problemas políticos, econômicos, financeiros e comerciais. A
isso se somam os derivados da mudança climática acelerada; a concorrência
comercial; a velocidade, precisão e poder destrutivo de armas que ameaçam a
sobrevivência da humanidade. O que hoje se escreve tem uma conotação muito
diferente do que divulgavam há apenas 40 anos, quando nosso planeta se via já
obrigado a albergar e abastecer de água e alimentos ao equivalente da metade da
população mundial atual. Isto sem mencionar a luta contra o Ebola que ameaça a
saúde de milhões de pessoas.
Acrescente-se
que dentro de alguns dias a comunidade mundial irá expor ante as Nações Unidas
se está de acordo ou não com o bloqueio a Cuba.
Sem comentários:
Enviar um comentário