João
Gonçalves* - Jornal de Notícias, opinião
O
referendo grego teve, entre outros, o mérito de confirmar algumas suspeitas.
Quer sobre nós, portugueses, quer sobre aquilo que passa por "Europa"
e que, na língua de pau em vigor, se traduz na marca branca
"instituições". Às da "Europa" soma-se o descaracterizado
FMI da sra. Lagarde, a "adulta" dos solários a qual, sem um pingo de
moral política desde que foi ministra de Sarkozy, é acólita matriculada na
desgraça em curso. Por
aqui, as circunstâncias eleitorais explicaram parte do desvario jubilatório das
esquerdas e da intimidação timorata das direitas. E o "carácter
nacional", espalhado em muito comentadorismo, nas redes sociais e em
algumas prosas do jornalismo oficioso, o resto: "dureza" e grosseria.
Paulo Rangel perguntava ontem, num artigo no Público, "Grécia, Grécia, por
que nos abandonaste", presumivelmente na sua recente qualidade de
substituto de Alexandra Solnado na interlocução directa com Jesus. E o
primeiro-ministro, mais terreno e jurado praticante do tratado orçamental,
sugeria que cabia à Grécia escolher.
Ou
seja, apontou-lhe delicadamente a luz de presença "saída" na lógica,
aliás, da aritmética do doutor Cavaco. Ora como preveniu Medeiros Ferreira em
Abril de 2012, o Tratado Orçamental foi feito para dividir a Europa e não para
a unir. É também isso que revela a tagarelice e a mesquinhice de muitas destas
reacções ao transe grego o qual, lá por ser grego, não deixa de ser sobretudo
europeu. Os sonsos das "instituições" - com Dijsselbloem à cabeça,
Draghi nas mãos, Schulz no tronco e Juncker nos pés -, no lastro de um Conselho
Europeu composto por impotentes políticos, activos ou passivos, espelham bem a
inexistência de um pensamento sobre o futuro da União. Primeiro, cativa da
alacridade dos Tratados desde 1992 e, agora, exclusivamente subordinada ao
Tratado Orçamental de 2012 que apenas serviu para aumentar a desconfiança entre
estados-membros.
O
episódio grego decorre fundamentalmente disto e do colapso de décadas de
governações falaciosas caídas com estrondo sobre o perplexo e porventura impreparado
Tsipras que não hesitou na imolação de Varoufakis. Porque (e volto a pedir
emprestadas palavras a Medeiros Ferreira) "neste momento as instituições
europeias não funcionam, nem dentro nem fora dos Tratados" dado "o
erro inicial da fuga à vontade dos povos e ao escrutínio democrático a nível
europeu". Obama e Putin não são meros observadores. Foi você que pediu
esta Europa? Eu não.
O
autor escreve segundo a antiga ortografia - *Jurista
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