sexta-feira, 11 de julho de 2014

Governo alemão expulsa chefe da inteligência americana em Berlim




Berlim garante que quer manter cooperação com Washington, mas diz que, para isso, confiança e transparência são necessárias. Merkel volta a citar Guerra Fria e afirma que espionar parceiros é "desperdício de energia".

O escândalo de espionagem que, a cada dia, deixa mais afastados os antes inabaláveis aliados Estados Unidos e Alemanha fez, nesta quinta-feira (10/07), a sua primeira vítima: por ordem do governo federal alemão, o chefe do serviço de espionagem americano em Berlim terá que deixar o país.

O governo alemão garante que ainda tem nos EUA um parceiro confiável. Mas a lentidão americana em prestar esclarecimentos sobre os escândalos de espionagem – desde a NSA e o grampo no celular da chanceler Angela Merkel até o caso de supostos agentes duplos a serviço de Washington na Alemanha – vem enfadando Berlim.

"Foi solicitado ao representante dos serviços de inteligência americanos na embaixada dos EUA que se retire da Alemanha", declarou Steffen Seibert, porta-voz do governo alemão, sem citar nomes. "Ter parceiros confiáveis no Ocidente, como os EUA, é fundamental e segue sendo vital para a segurança dos cidadãos e das Forças Armadas. Mas, para isso, confiança mútua e transparência são necessárias."

Inicialmente, a Casa Branca preferiu não comentar a expulsão. "Vimos os relatórios e não comentaremos o assunto", disse Caitlin Hayden, porta-voz do Departamento de Segurança Nacional da Casa Branca. "As relações entre os dois países em questões de segurança e serviço secreto são muito importantes."

Escândalo irrita chanceler

Merkel acusou os EUA de usarem seus recursos de espionagem da maneira errada. Enquanto ainda há tantos desafios em outros lugares, afirmou, espionar aliados é "um desperdício de energia".

"Temos tantos problemas. Devemos nos concentrar no que é essencial", afirmou a chanceler em relação à Síria e ao Iraque. "Há uma necessidade bem diferente para o uso dos serviços secretos após o fim da Guerra Fria."

O ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, disse que, de acordo com os resultados das investigações, "as informações obtidas através da espionagem [americana à Alemanha] são ridículas." O dano político foi, no entanto, bem mais grave.

Na quarta-feira, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, acusou os Estados Unidos de estarem abalando sua relação com a Alemanha com os recentes escândalos de espionagem, os quais ele qualificou de "burrice".

Depois do recente caso de um funcionário do Departamento Federal de Investigações (BND), acusado de espionar para os EUA, o escândalo de espionagem ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira. Desta vez, um militar é investigado sob suspeita de espionar para os americanos.

Deutsche Welle - BA/dpa/afp – Edição: Rafael Plaisant

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Segundo Wolfgang Schäuble, parceria com os EUA ajudou a Alemanha a se defender de várias ameaças terroristas, mas isso não significa "que os americanos possam recrutar aqui pessoas de terceira categoria". (10.07.2014)

Imprensa afirma que suspeito é um militar que também estaria espionando para os Estados Unidos. Parece não haver conexão com o caso revelado há poucos dias. (09.07.2014)

O Ministério Público alemão investiga um colaborador do BND que teria espionado para os EUA. Pesquisador da paz e de serviços secretos explica por que o caso do agente duplo desmascarado é tão significativo. (07.07.2014)

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