Lamia
Oualalou, Rio de Janeiro – Opera Mundi
País
teria que fazer mais cortes para se adequar ao pedido pela união dos países do
continente; na mesma situação, Itália fala que regras são "coisas do
passado"
Um
verdadeiro vexame está ameaçando a França nas próximas semanas. A Comissão
Europeia, o órgão executivo da União Europeia (UE), está se preparando para
rejeitar o orçamento do país para 2015. Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha
foram advertidos repetidas vezes por Bruxelas de que o mesmo poderia acontecer
com eles, mas a eventual decisão da Comissão de mandar de voltar o orçamento
para a França, um dos pilares da UE, é o sinal que a crise esta chegando ao
coração da zona do euro.
O
crescimento da economia francesa esta muito aquém do resto da região. Em 2014,
ele não deve passar de 0,4% (a média na zona do euro deveria atingir 0,8%), e
de 0,8% em 2015 (1,3% na zona euro). O desemprego está acima de 11% e o rombo
fiscal não estanca. O déficit orçamentário deveria fechar o ano em 4,3% do
Produto Interno Bruto (PIB), bem acima do limite teórico de 3% adotado dentro
da zona do euro.
Durante
a última cúpula europeia, França se comprometeu a reduzir em 0,8 ponto
percentual o chamado “déficit estrutural”, ou seja, a parte do déficit que não
depende da conjuntura econômica. No
entanto, os cálculos da Comissão Europeia indicam que a diminuição será apenas
de 0,2 ponto, quatro vezes menor que o objetivo.
O
que é percebido pelas autoridades europeias como um “sério descumprimento” das
regras deveria incentivá-las a rejeitar o orçamento para salvar sua
credibilidade. O fato de alguns países ricos, como a França, desrespeitarem os
acordos, deixa a UE com menos força para exigir mudanças drásticas nas
economias menores da região, como Portugal ou Grécia.
Último
ato
A
possível decisão de reenviar o orçamento de volta para Paris deve ser o último
ato da gestão do atual presidente da Comissão, o português José Manuel Barroso,
que será substituído no fim do mês por Jean-Claude Juncker, ex-premiê de
Luxemburgo. Segundo Bruxelas, Paris deveria reduzir as despesas públicas em 8
bilhões de euros.
O
governo francês tem dito que não adotará mais medidas para apertar o cinto além
do que foi proposto até agora, sinalizando que está pronto para se arriscar em
um confronto com as autoridades europeias. “Já cortamos 21 bilhões de
euros no orçamento de 2015, não vamos fazer um esforço maior. Também não vamos
aumentar os impostos para reduzir o déficit”, reagiu o ministro da Fazenda,
Michel Sapin.
Ele
argumenta que não faz sentido cortar mais os gastos diante da piora do cenário
econômico e político. Enquanto a popularidade do presidente francês François
Hollande é a menor da história – o desempenho dele é aprovado por apenas 13% da
população – o sentimento antieuropeu está crescendo na França. A rejeição do
orçamento poderia ser usada, por exemplo, pela Frente Nacional, partido de
extrema-direita de Marine Le Pen.
Os
aliados do governo consideram “inimaginável” a Comissão recusar o orçamento. “É
o trabalho de nosso parlamento de votar os orçamentos e decidir os impostos, eu
cansei das aulas particulares que Bruxelas quer nos administrar”, reclamou, por
exemplo, o deputado socialista Arnaud Leroy.
Itália
Se
optar pelo embate com a Comissão Europeia, França não ficaria só. A Itália
também já informou que não atingirá a meta do orçamento, e o primeiro ministro,
Matteo Renzi, declarou no dia 6 de outubro que as regras orçamentárias da EU
eram “uma coisa do passado”. Para o ministro Sapin, “nós entramos em um período
que requer uma mudança da doutrina econômica na Europa”, declarou à radio
francesa Europe 1.
A
posição francesa contra uma política ainda mais restritiva não seria
suficiente, porém, para voltar a atrair os eleitores de esquerda. No mesmo
momento em que o governo defendia o orçamento, o primeiro-ministro francês,
Manuel Valls, afirmava que o projeto de um imposto de 75% sobre as fortunas do
país, uma promessa do então candidato Hollande, seria totalmente enterrado.
Diante
de uma plateia de empresários e de banqueiros reunidos na City, o templo da
finança em Londres, Valls assegurou que o imposto era apenas uma medida
provisória, que não seria reconduzida em 2015. E para concluir, ele
acrescentou, em inglês, “My government is pro-business” [Meu governo é
pró-negócios].
Na
foto: Hollande, presidente da França, e Valls, primeiro-ministro: país corre
risco de ter orçamento rejeitado
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