sexta-feira, 13 de março de 2015

ALFABETIZAÇÃO EM ANGOLA EM RITMO ACELERADO - entrevista




Luanda - Os esforços do Executivo no processo de alfabetização dos cidadãos angolanos iletrados tem registado evolução a todos os níveis e dado oportunidade a pessoas que, em tempo próprio, não tiveram a possibilidade de aprender a ler e escrever, bem como de continuar os estudos (com os módulos 2 e 3) e terem equivalência à 6ª classe. Em 40 anos de independência, 73,5 porcento dos 24 milhões de angolanos registados foram, continuam ou estão escolarizados.

Márcia Manaça

Em entrevista à Angop durante a qual fez abordagem do processo de alfabetização no país desde 1975 (ano da independência nacional) até a presente data, o director Nacional do Ensino de Adultos do Ministério da Educação (MED), Makulo Valentim Afonso, lembra que na altura em que se conquistou a independência nacional o registo apontava que dos seis milhões e 300 mil habitantes, sob o controlo das autoridades coloniais portuguesas, apenas 15 porcento era escolarizada.

Angop: Em que ritmo se encontra actualmente o processo de alfabetização no país?

Makulo Afonso (MA) - Estamos no bom caminho. Os números são animadores (taxa de alfabetização 73,5%), há muito engajamento da sociedade e das comunidades que permite estar no patamar em que se está.

Angop: Faça um resumo dos 40 anos de independência?

MA - O marco da independência é muito importante na história da alfabetização no país. Sempre que tiver de falar sobre o assunto, devo fazer referência a 1975, que é o ponto de partida, em que se registava uma taxa de alfabetização de apenas 15 % da população. O Plano Estratégico da Revitalização começou em 2012. Este plano é que permitiu também que o número de alfabetizadores aumentasse. Actualmente conta com 19.418 em todo território nacional. Cifra que em 2012 era de 7 mil e 600. Traduz que, como o censo apontou que somos 24 milhões de habitantes, estamos a dizer que teremos o desafio de alfabetizar 6 milhões de habitantes até 2025.

Angop: Com que parceiros sociais o MED conta, que tipo de relação tem e que apoio estas parcerias têm dado para o desenvolvimento do processo?

MA - O processo de alfabetização só é possível com a cooperação dos parceiros. Os mais activos - tenho a destacar as igrejas - trabalham com muito afinco, organizações juvenis como a JMPLA, que tem uma brigada no âmbito da alfabetização, OMA, Associação Angolana de Adultos, Associação de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP), Fundação Eduardo dos Santos (FESA), União Nacional de Camponeses (UNACA), Cica, CEAST,  Conselho Nacional da Juventude, Forças Armadas, Polícia Nacional e algumas empresas de construção. Quanto ao tipo de relação, o Ministério da Educação coordena e as direcções provinciais de Educação executam, com apoio dos parceiros. O MED tem a responsabilidade de criar as condições, garantir os materiais para que a alfabetização se desenvolva, isto é, potenciando as direcções, que, por sua vez, vão potenciar os parceiros, com material didáctico (manuais de alfabetização, quadros, cadernos, lápis, borrachas), e apoio. Os materiais são gratuitos. Os alfabetizadores beneficiam de um subsídio de 10 mil kwanzas, assegurados igualmente pelo Executivo. O apoio do MED consiste no material e na alocação dos subsídios aos alfabetizadores.

Angop: Qual é o número de voluntários controlados? São suficientes para as metas que se propõem?

MA - Actualmente, estão controlados 19.418 alfabetizadores, mas o processo é gradual e está sujeito a ter o seu impacto dentro das medidas económicas, pois são subsidiados pelo Estado e têm um peso na economia do país. Não é suficiente, embora seja um número considerável. Precisa-se mais, porém todas as medidas ou decisões passam pelo momento actual do país.

Angop: Quantas pessoas  foram alfabetizadas em 2014?

MA - Inscreveram-se um milhão 203 mil 198 pessoas. Deste universo, 68, 5 % são mulheres. Terminaram com sucesso 982 mil 569 alfabetizandos. Desde a revitalização da alfabetização em 2012 foram alfabetizados dois milhões 482 mil 801.

Angop: Quais as maiores dificuldades encontradas no processo?

MA - Um processo assim não é “um mar de rosas”. Há dificuldades. Como podem ver, inscreveram-se mais de um milhão de alfabetizandos e apenas terminaram 982 mil 569. Os outros foram desistindo. No processo de alfabetização existem pessoas que aparecem um dia e no dia seguinte já não. Ou seja, regista desistências frequentes. Há ainda os que, por défice de adaptação, acabam por abandonar, bem como os irregulares. Outra dificuldade é a insuficiência de professores para o processo de continuidade, para leccionar o módulo 2 e 3. Existem duas estratégias no processo de alfabetização: a que consiste em apenas aprender a ler e escrever; e depois seguem-se os módulos 2 e 3 que dão a equivalência da 6ª classe. Um alfabetizador, no mínimo, tem a 7ª classe. Já o professor de continuidade tem de ser da primária, mas diplomado, formado na Escola de Formação de Professores. Há um défice, temos controlados seis mil 387. O próprio sistema, no geral, ainda não tem o número de professores desejado. O ingresso é condicionado a factores de ordem orçamental.

Angop: Perspectivas para 2015?

MA - O pelouro está a trabalhar no processo de ensino secundário de adultos. Ou seja, escolas do I ciclo do Ensino Secundário. O desafio que temos de ultrapassar é a continuidade dos interessados em aprender mais, e que após os três anos de alfabetização recebam a equivalência da 6ª classe e pretendam dar sequência. Está já em execução a fase de experimentação em três províncias, nomeadamente Malanje, Luanda e Huambo, em uma escola de cada, designada Implementação da Aceleração das Aprendizagens do I Ciclo do Ensino Secundário. Estão a trabalhar com 36 professores, distribuídos nas 3 províncias e 12 disciplinas curriculares. A estratégia é acelerar a aprendizagem, concluindo o I ciclo em dois anos, uma vez que já estão atrasadas. Para o final do ano, está prevista uma avaliação e posteriormente alargar paulatinamente a todo país. Em 2015 pretendemos alfabetizar um milhão e 165 mil pessoas.  

Angop - Foto António Escrivão

Sem comentários:

Mais lidas da semana