sexta-feira, 13 de março de 2015

Macau - Luís Amorim. PJ ASSEGURA QUE NÃO DESCARTOU HIPÓTESE DE HOMICÍDIO



JOANA FREITAS - Hoje Macau

Começou ontem a inquirição de testemunhas no caso que opõe a família Amorim à RAEM: inspectores da PJ garantem que a investigação não se condicionou pelo suicídio, mas admitem também que o jovem foi encontrado com vida e que o local foi lavado ainda antes da equipa forense chegar

A Polícia Judiciária (PJ) assegurou ontem em tribunal que nunca foi descartada a hipótese de que Luís Amorim, o jovem que apareceu morto a 30 de Setembro de 2007, pudesse ter sido morto. Naquela que foi a audiência que deu início ao caso que opõe os pais do jovem à RAEM, inspectores que participaram na investigação negaram a tese defendida pela família de que se declarou de imediato a morte de Luís Amorim como tendo sido um suicídio, com base no que terá sido dito aos pais e pelo que disse o próprio Ministério Público (MP).

“Não foi excluída no início [a hipótese de homicídio], qualquer morte que aparece abrimos todas as hipóteses”, frisou Porfírio Souza, inspector da PJ e segunda testemunha a ser ouvida. “Acho que [o ponto de partida da PJ] não foi suicídio”, defendeu também o inspector primeiramente ouvido, Filipe Estorninho.

Estorninho, na altura membro da brigada de homicídios e crimes contra pessoas, admite que “até hoje ainda não tem conclusão sobre se o caso foi acidente, suicídio ou homicídio”, mas assegura que todas essas hipóteses “foram abertas”, não havendo, contudo, “quaisquer indícios de crime”.

Algo defendido também por Souza, mas contrariado pela defesa de Amorim, constituída pela advogada estagiária Sofia Linhares e pelo causídico que sempre acompanhou o caso, Pedro Redinha. Estes apresentam documentos tanto do piquete que encontrou primeiro Luís, como do MP e do centro de medicina legal do São Januário, que dizem que a causa da morte foi “suicídio por queda de local elevado”.

SEM VÍDEOS

“Se nunca se afastou a hipótese de suicídio, como é que se compreende que a investigação não tenha sido dirigida de forma mais ampla?”, questionou Redinha, explicando que só “meses depois” e a seu pedido foram inquiridas testemunhas que levantavam a suspeita de homicídio. A defesa diz que a morte do jovem, de acordo com os amigos de Amorim, poderia estar ligada a “um incidente grave relacionado com a máfia, no Bex”, bar onde o jovem foi visto pela última vez, ou por “engano por o ligarem a um caso de droga”.

Os inspectores da PJ admitiram perante a defesa que o local onde foi encontrado Luís foi lavado assim que o corpo foi removido e antes da PJ chegar, o que poderá, segundo Redinha, ter impedido os agentes forenses encontrassem indícios que pudessem ajudar na investigação.

“Ainda assim, fizemos investigações no local depois da lavagem e nada foi encontrado”, realçou Porfírio Souza.

As testemunhas – que garantiram perante Joaquim Sousa, do MP, que investigaram de forma detalhada e com “boa vontade” – colocam ainda o jovem na Ponte Nobre de Carvalho minutos antes de ter aparecido debaixo dela, com base em duas testemunhas que admitem poder ter visto alguém parecido com Luís e com base em marcas das sapatilhas do jovem, na ponte.

Apesar de assegurarem que tentaram ver as imagens das câmaras de videovigilância, os inspectores assumem que “a da ponte não estava a funcionar na altura” e que a do Bex só guardava “alguns dias”, tendo sido apenas possível reter as do Centro Cultural de Macau, perto do bar.

“A ponte tinha montado um sistema, mas não tinha gravação. As imagens do CCM não eram as melhores e não conseguimos identificar ninguém a sair do Bex”, disse Estorninho, que frisou também não ter sido visto qualquer conflito nas imediações do local.

Porfírio Souza assegurou à juíza – que questionou “tantas lojas e bares e não conseguiram nenhuma gravação?” – que foram feitas diligências, mas nunca encontradas filmagens.

LESÕES NA FACE

Apesar da investigação ter sido arquivada com a tese de suicídio, a defesa de Amorim não deixou de apresentar fotografias que mostram – de acordo com peritos forenses que efectuaram a segunda autópsia – que o jovem terá sido vítima de agressões. As fotos apresentam “cortes debaixo dos olhos, uma incisão na testa com objecto perfurante e uma abrasão no pescoço, [ferimentos] que não podem ser provocados por uma queda da ponte, e arrastamento em vida”, como defendeu Redinha.

Ainda assim, a queda é defendida pelos inspectores.

“No caso dele, tem lesões visíveis compatíveis com caso de queda”, disse Estorninho. “Já vi muitas pessoas que se atiraram de lugares altos e que nem sequer têm ferimentos”, acrescentou Souza, que afasta a hipótese de que o jovem possa ter sido atirado da ponte, porque “ninguém ia arriscar” fazer isso, uma vez que a população não sabia que as câmaras não estavam a funcionar.

AINDA VIVO

As contradições continuam, de acordo com a defesa de Maria José Azevedo e José Amorim, até na forma como foi encontrado Luís. É que ontem, ambos os inspectores da PJ admitiram que o jovem foi encontrado ainda com vida.

Luís Filipe Estorninho, o primeiro a ser ouvido, apenas disse “julgar” que o jovem ainda apresentava sinais de vida, sem “saber ao certo”, mas Porfírio Souza assegurou mais do que uma vez que esse foi, realmente, o estado em que o jovem foi encontrado.

“Quando foi encontrado, ainda apresentava sinais de vida. Depois até foi transportado para o hospital, onde foram prestados primeiros socorros, e acabou por falecer no hospital do Governo”, começou por dizer. “Na altura [em que foi encontrado] ainda dava sinais de vida.”

O relato dos inspectores é semelhante ao de duas testemunhas que terão encontrado o jovem debaixo da Ponte Nobre de Carvalho, mas difere, de acordo com Pedro Redinha, do relatório da ocorrência, que dita que o jovem foi encontrado já cadáver.

Na próxima quarta-feira, continua a ser ouvido Porfírio Souza e mais um agente da PJ. Recorde-se que a família processa a RAEM por negligência na investigação e pede uma indemnização de 15 milhões de patacas. Os inspectores disseram ainda que o jovem estava com álcool no sangue, um nível “elevado” que até lhe poderia causar “perturbações”.

Média “influenciados” 

Na inquirição de ontem, os investigadores disseram ainda que “seria provável que alguém espicaçasse os média” para que notícias sobre o caso fossem publicadas “no decorrer da investigação”. Estorninho falava em “conhecimento aprofundado” do caso e de alguém que “impulsionava as notícias contra as autoridades” tanto que “parecia que o caso não estava em segredo de justiça”. O mesmo foi defendido por Porfírio Souza. “Foram muitos os comentários que não deviam ter sido publicados nos jornais (…) e o que recordo é que foi sempre contra as autoridades, desculpem o termo, mas nunca foi a falar bem.”

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