O
chefe da diplomacia moçambicana, Oldemiro Balói, está em França, onde abordou
com o seu homólogo francês o homicídio do constitucionalista. Autoridades
francesas dizem estar determinadas a ajudar no processo judicial.
Depois
do assassinato do constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles
Cistac, na última semana, como ficam as relações entre Moçambique e a França? A
Embaixada francesa em Maputo, ao condenar o crime, pediu um inquérito policial
rápido e que os culpados sejam detidos e levados à justiça.
Na
altura, as autoridades moçambicanas realizaram um encontro com representantes
da comunidade internacional e esta semana o ministro dos Negócios Estrangeiros
e Cooperação moçambicano, Oldemiro Balói está em Paris, onde esta quinta-feira
(12.03) participou num encontro sobre oportunidades de investimentos em
Moçambique, organizado pelo Senado e pela Business France, agência
governamental francesa especializada em desenvolvimento internacional.
França
determinada a ajudar
A
agenda da visita do chefe da diplomacia moçambicana incluiu também, na tarde
desta quinta-feira (12.03), uma reunião de trabalho com Laurent Fabius,
ministro dos Negócios Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional francês,
durante a qual foi abordado o homicídio do constitucionalista moçambicano de
origem francesa, Gilles Cistac.
As
autoridades francesas dizem estar determinadas a ajudar no processo judicial
que Moçambique deverá levar a cabo para a responsabilização dos autores do
assassínio.
A
DW África entrevistou Paulo Mateus Wache, investigador do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais (CEEI). O também chefe do Departamento de
Relações Internacionais e Política Externa e docente de Geopolítica e Estudos
de União Europeia no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) em
Maputo garante que as relações entre as partes não ficaram “beliscadas”.
DW
África: O assassinato de Gilles Cistac põe em perigo as relações entre Paris e
Maputo?
Paulo
Wache (PW): Poderiam estar em perigo se o Governo moçambicano não tivesse
cooperado com as autoridades francesas. Mas a minha percepção é que, desde que
ocorreu a morte de Cistac, o Governo tem estado a cooperar para que o caso seja
esclarecido. Inclusive o chefe da diplomacia moçambicana viajou para a França
para, entre outros temas, tratar deste assunto e, provavelmente, para solicitar
às autoridades francesas mais cooperação no sentido de esclarecer o caso. Penso
que há um maior interesse também do Governo em querer saber os mentores e os
autores deste crime.
Olhando
nessa perspetiva e olhando para a cooperação que está a acontecer entre os dois
países, a forma como o Governo de Moçambique está a interagir com o Governo
francês, do ponto de vista de quem observa de fora, acho que continuando neste
ritmo não haverá nenhum problema nas relações entre a França e Moçambique.
DW
África: O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique,
Oldemiro Balói, está em Paris, onde participou num colóquio sobre oportunidades
de investimentos em
Moçambique. Como vê o interesse da França de fazer
investimentos na área dos recursos naturais em Moçambique?
PW: A
França não só faz investimentos na área dos recursos naturais, mas está também
a investir em muitas áreas, inclusive na área da tecnologia de informação, para
além de manifestar interesse em muitos outros setores. Cada vez mais
descobre-se em Moçambique outros recursos energéticos, principalmente o gás,
que é uma das fraquezas da União Europeia (UE) no sentido de fornecimento de
gás fiável, uma vez que atualmente vemos a fricção existente entre a UE e a
Rússia, que é o maior fornecedor de gás.
A
UE precisa de fontes alternativas de energia e isso está também no quadro das
preocupações da França, como líder da UE juntamente com a Alemanha e o Reino
Unido.
É
justo que os europeus estejam interessados em investir na área dos recursos
naturais que será uma alternativa, um balão de ar fresco para o fortalecimento
da economia da UE e, ao mesmo tempo, a redução da dependência em relação à
Rússia. Por outro lado, para Moçambique é uma oportunidade para a
diversificação dos atores que vão interagir com o nosso país e para tirar mais
proveito e aprender com os atores que estão há muito tempo no mercado
energético internacional.
DW
África: O último grande negócio que Moçambique fez com a França foi a compra de
barcos para a empresa EMATUM. Esse negócio não será posto em causa deste
assassinato?
PW: Não
vejo nada disso, enquanto o Governo continuar a cooperar. Só se por alguma
razão os dois países pararem de cooperar. Mas acredito que não há risco de o
negócio parar por causa de um mau entendimento. Já ouvimos o Governo a
pronunciar-se de que os atores do assassinato terão que ser encontrados, já
vimos o chefe da diplomacia moçambicana viajar para a França para também pedir
a cooperação neste caso. Então, não se pode concluir que o assassinato vai
afetar as relações enquanto não virmos o tal mau entendimento ou procedimentos
que possam ser considerados riscos entre as partes.
A
morte de cidadãos acontece em qualquer parte. A situação muda de figura se
ficar provado que os atores que cometeram o crime são pessoas ligadas ao
Governo. Caso contrário é preciso percebermos que o crime é transnacional e
acontece por várias razões. Nesse sentido, acho que a cooperação que existe
entre os dois Governos é fundamental e deve continuar assim para que os ânimos
se levantem e para que, de facto, não ocorra cancelamento de investimentos e
baixas no relacionamento existente entre os dois Estados.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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