sexta-feira, 13 de março de 2015

Deputados do PS questionam Governo sobre modificações no ensino do português em Timor




Lisboa, 12 mar (Lusa) -- Deputados do Partido Socialista (PS) questionaram hoje o Governo sobre as mudanças no ensino do português em Timor-Leste, remetido para o 3.º ciclo, e como esta modificação afetará a cooperação portuguesa neste setor com o país asiático lusófono.

"No início deste ano, o Governo timorense decidiu aprovar a vigência de dois diplomas que determinam a introdução do português como língua principal apenas no 3.º ciclo, desvalorizando-a assim enquanto língua oficial do país", indicou o texto, assinado pelos deputados Paulo Pisco e Acácio Pinto.

Dois decretos-leis do Governo timorense, publicados no Jornal da República de Timor-Leste em janeiro, introduzem o uso de línguas maternas no pré-escolar e arranque do ensino básico, colocando o português como língua principal apenas no 3º ciclo.

Ambos foram aprovados pelo Governo timorense em junho de 2014, promulgados pelo chefe de Estado em 24 de novembro último e publicados no Jornal da República a 14 de janeiro.

Além de remeterem o português como língua principal para mais tarde, os textos introduzem o conceito do uso da língua materna nos primeiros níveis de ensino, algo que altera o modelo em vigor nos últimos anos.

Os deputados socialistas lembraram que Timor-Leste adotou o português como língua oficial, a par do tétum, por razões históricas e que mantém uma relação próxima e de cooperação em vários níveis, incluindo o educacional, com Portugal.

Os parlamentares também referiram que as decisões do Governo e do parlamento devem ser respeitadas e que a sua soberania é inquestionável.

Entretanto, os deputados sublinharam que Timor-Leste assumiu a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em julho, pela primeira vez, comprometendo-se a impulsionar o ensino da língua portuguesa.

"Recentemente, um grupo de deputados timorenses fez um pedido de apreciação parlamentar dos referidos diplomas, alegando padecerem de ilegalidades materiais graves e na convicção de que a sua implementação será feita em prejuízo da língua portuguesa", referiram os parlamentares.

Segundo os deputados, "a defesa e a promoção da língua portuguesa não é apenas um desígnio estratégico de Portugal, mas de toda a CPLP".

"No entanto, não deixa de causar surpresa o facto de terem sido duas assessoras portuguesas em funções no Ministério da Educação Timorense que defenderam aqueles decretos em prejuízo da língua portuguesa, a sexta mais falada a nível planetário", afirmaram.

Os deputados indicaram que é preciso clarificar esta situação, visto que "pelo menos uma das assessoras" pertenceria aos quadros do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua.

Os dois políticos socialistas querem saber quais foram as diligências feitas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para esclarecer o contexto em que se tem desenvolvido o debate em torno da utilização da língua portuguesa em Timor-Leste e o papel das assessoras portuguesas no tema.

Paulo Pisco e Acácio Pinto querem saber se os dois diplomas podem comprometer o ensino do português em Timor-Leste e em que língua será lecionada as componentes curriculares nos primeiros anos de escolaridade.

Os dois parlamentares querem esclarecer ainda se a vigência dos diplomas poderá ter algum tipo de impacto nos projetos de cooperação que o Estado Português desenvolve com Timor-Leste.

CSR (ASP) // EL

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