sábado, 26 de setembro de 2015

Portugal. GOVERNO PAGA MAIS JUROS AO FMI POR CAUSA DO NOVO BANCO



O adiamento da venda do Novo Banco leva o governo a não pagar antecipadamente 2,2 mil milhões de euros ao FMI. Estado fica mais tempo com dívida cara e endivida-se em mais 1,7 mil milhões.

O governo contava (desde abril, aliás) receber até final deste ano a totalidade do dinheiro que emprestou ao Novo Banco, via Fundo de Resolução (o dono do banco). O fracasso na venda acabou por gerar um buraco no financiamento neste ano de, precisamente, 3,9 mil milhões de euros.

A solução encontrada? Não pagar antecipadamente os 2,2 mil milhões de euros que faltavam, este ano, ao Fundo Monetário Internacional (FMI), transferindo o encargo para o próximo governo (2016); emitir mais 500 milhões de euros em obrigações do Tesouro (OT) em 2015; lançar um novo produto de poupança para as famílias baseado em OT, que deve gerar um encaixe de 800 milhões já este ano no conjunto da dívida de retalho (compra pelos particulares); e ainda usar 400 milhões de euros de dinheiro dos depósitos, explica a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) numa nota enviada aos investidores.

Tudo somado dá os tais 3,9 mil milhões de euros deixados em aberto pela não venda do banco. A expectativa de receber a verba do Fundo de Resolução transita assim para o ano que vem, o que até ajuda a amortecer o agravamento na dívida a pagar via FMI. Assim, as necessidades brutas de financiamento de 2016 até baixam: eram 19,2 mil milhões de euros a 11 de setembro. Agora, a previsão diz 17,5 mil milhões. Estes números decorrem de cálculos feitos pelo Dinheiro Vivo com base numa nova nota do IGCP datada de 24 de setembro.

A agência confirma que, na sequência do adiamento da venda do Novo Banco, "as necessidades líquidas de financiamento para 2015 em comparação com a projeção do Programa de Estabilidade aumentam (em 3,9 mil milhões de euros)", mas isto "não altera de forma significativa a estratégia de financiamento, nem a posição de liquidez [depósitos] projetada até final do ano".

No entanto, a verdade é que o Tesouro teve de acomodar a falta desses 3,9 mil milhões. "O IGCP irá revisitar a estratégia de reembolso antecipado do empréstimo do FMI" e "em particular, reavaliar a intenção de reembolsar a terceira tranche do empréstimo até final do ano". Mas o compromisso de pagar mais 2,2 mil milhões de euros em 2015 (o Estado já pagou 8,4 mil milhões este ano e contava chegar aos 10,6 mil milhões) passa para 2016 e desaparece de 2015.

O Dinheiro Vivo questionou as Finanças sobre a decisão - remeteram para o Conselho de Ministros de quinta-feira. Aí, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, disse que o pagamento antecipado ou não ao FMI "é uma matéria que será ponderada a cada momento em função das condições de mercado" e que o novo produto de poupança para as famílias "não decorre de nenhuma dificuldade de financiamento nos mercados". O FMI, questionado, não comenta.

Uma coisa é certa: não trocar esta dívida ao FMI (mais cara) por dívida mais barata é pior para o défice deste ano, pois implica não poupar tanto em juros. A taxa de juro média do FMI ronda os 4,8%, quando o Estado já se consegue financiar a menos de metade (2,2% no último leilão).

A ministra admitiu ainda que "obviamente que contávamos com o reembolso do empréstimo" ao Fundo de Resolução dentro do prazo de um ano. Desde abril, aliás, que isso estava nas contas públicas.

Entretanto, o banco não foi vendido dentro do prazo, mas a ministra diz que "isso não tem nenhuma consequência que nos preocupe". "A nossa almofada financeira continua a ser mais do que suficiente para termos tranquilidade quanto ao acesso ao mercado." E assim foi. Os depósitos diminuíram 400 milhões, para 8,6 mil milhões de euros.

Luís Reis Ribeiro - Diário de Notícias

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