quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Organização internacional de advogados preocupada com crise judicial em Timor-Leste




Londres, 02 dez (Lusa) -- O responsável pela organização de advogados International Bar Association's Human Rights Institute, Alex Wilks, afirmou hoje à agência Lusa que a crise judicial em Timor-Leste é preocupante e deve ser acompanhada internacionalmente.

O Governo de Timor-Leste ordenou no dia 03 de novembro a expulsão, no prazo de 48 horas, de oito funcionários judiciais, sete portugueses e um cabo-verdiano.

No dia 24 de outubro, o parlamento timorense tinha aprovado uma resolução a suspender os contratos com funcionários judiciais internacionais "invocando motivos de força maior e a necessidade de proteger de forma intransigente o interesse nacional" e outra a determinar uma auditoria ao sistema judicial do país.

"Aquilo com que estamos mais preocupados é com o facto de não ter sido respeitada a decisão do Conselho Superior da Magistratura Judicial -- a instituição responsável por estas matérias -- e neste caso o Parlamento ultrapassou as competências, interferindo na independência do sistema judiciário, que é o garante do Estado de Direito em qualquer país democrático", disse à Lusa o responsável da organização com sede no Reino Unido.

Alex Wilks recordou que Guilhermino Silva, presidente do Tribunal de Recurso e do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ) de Timor Leste assinou um documento, datado de 28 de outubro, sobre a decisão de expulsão dos juízes e que indica que apenas ao "CSMJ compete nomear, transferir e apreciar o seu mérito profissional e exercer ação disciplinar, não tendo qualquer efeito prático a resolução do Parlamento Nacional nº11/2014 de 24 de outubro".

De acordo com Wilks, o assunto deve ser resolvido pelos timorenses mas alerta que a organização vai ficar atenta e "dar repercussão internacional à questão".

"Penso que é importante, em primeiro lugar, mostrar solidariedade, sobretudo aos juízes, e também mostrar o estado de desenvolvimento das instituições judiciais. Aquilo que esperamos fazer é ajudar a Ordem dos Advogados de Timor Leste. Creio que esta crise indica a necessidade de fortalecer e desenvolver a independência das instituições", disse, acrescentando que a "exclusão é contraproducente", referindo-se à expulsão dos juízes internacionais.

Na segunda-feira, a Ordem dos Advogados de Darwin, Austrália, divulgou um relatório em que referia que a expulsão dos juízes estrangeiros de Timor-Leste pode estar relacionada com casos de corrupção que envolvem membros do governo de Díli.

"A maior parte dos intervenientes (independentes em relação ao governo de Timor-Leste), com quem falei, incluindo juízes, relaciona estes acontecimentos com os casos de corrupção contra oito membros do atual Executivo, incluindo o presidente do Parlamento, além de outros casos relacionados com corrupção que correm nos tribunais", escreve o relator australiano que visitou Díli para a elaboração do relatório da Ordem dos Advogados de Darwin (Northern Territory Bar Association).

PSP // APN

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