sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Concluídas quase 30 investigações de corrupção envolvendo governantes timorenses




Díli, 20 fev (Lusa) - A Comissão Anti-Corrupção (CAC) timorense já concluiu quase 30 inquéritos de investigação por alegada corrupção envolvendo ex-membros do Governo de Timor-Leste, confirmou à Lusa o vice-comissário da instituição.

"Só podemos fazer a investigação com base em delegações do Ministério Publico. De entre 105 casos delegados pelo Ministério Público já concluímos 91 inquéritos", disse José António das Neves, vice-comissário para Educação, Campanha e Investigação.

"Dos 90 cerca de 20 ou 30 casos envolvem membros do IV e V Governo constitucional. E alguns ex-membros dos executivos", afirmou à Lusa em Díli.

O vice-comissário falava à margem de um encontro sobre o enquadramento legal do combate à corrupção em Timor-Leste, por ocasião do 5.º aniversário da Comissão Anti-Corrupção (CAC), em Díli.

"Há bons membros do Governos. Mas também há suspeitos e alguns já estão no Tribunal. O Ministério Público é que trabalha na acusação. O mandato que a lei prevê para a CAC é de investigação. Depois remetemos para o Ministério Público", afirmou.

O maior número de casos diz respeito a abuso de poder, com um elevado número de participação económica em negócio, em que se evidenciam casos de conflitos de interesse, com "mistura entre interesses públicos e privados" a vários níveis.

"O maior número de casos é abuso de poder. Quase predominante em todos os casos. Não apenas membros do Governo mas também funcionários", disse.

"Em cada nível da hierarquia estrutural da função pública também têm certa competência para decidir certas coisas. Então há uma tendência enorme neste sentido, de abusos de poder", explicou.

Garantindo que a CAC nunca atua "com base em boatos", conduzindo sempre as suas investigações "procurando provar primeiro que há coisas factuais", o vice-comissário recordou que a corrupção continua, a par do emprego, a ser identificada pela sociedade como um grave problema no país.

Criada com um mandato de polícia de investigação criminal especializada no combate à corrupção, a CAC continua a debater-se com carências de recursos.

"Temos 62 funcionários mas apenas 15 investigadores que cobrem todo o território. Trabalhamos em equipa, dois ou três no mesmo caso", explicou.

Ao mesmo tempo recordou que "não é fácil acelerar investigações sobre corrupção" e que "provar um crime de corrupção leva tempo".

"Temos que trabalhar com factos de grande complexidade. É um crime organizado. O público tem uma grande vontade contra a corrupção, Isso é positivo. Mas no campo operacional da investigação não é fácil de cumprir o que o publico espera", admitiu.

Questionado sobre se há pressões políticas na CAC, o vice-comissário lembrou que os investigadores têm sempre que cumprir a lei.

"A política sempre tem a sua maneira de ver a coisa. Mas temos que cumprir a lei e não fazer política. Quem trabalha na área legal tem mais limites. Mesmo que saiba mais, fala pouco", disse.

Criada em 2009 a CAC inclui, atualmente, departamentos de investigação, prevenção, educação, campanhas e investigação tendo desde 2011 começado mais de 100 processos de investigações sobre alegados casos de corrupção em Timor-Leste.

Intervindo no mesmo encontro em Díli, Adérito Tilman, comissário anticorrupção, disse que é essencial consolidar tanto as "medidas preventivas de corrupção" com o quadro legal e os demais instrumentos, incluindo recursos humanos, para o "combate ativo ao problema da corrupção".

"Mas não chega ter instrumentos adequados. Temos também que ter seriedade pública e vontade política do Governo no combate à corrupção", afirmou.

ASP // DM

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