O
líder do maior partido da oposição de Cabo Verde criticou hoje, na Cidade da
Praia, a excessiva partidarização na administração pública cabo-verdiana, o que
tem inviabilizado a existência total de liberdade no país.
Em
declarações à agência Lusa no final da cerimónia pública que assinalou o 25.º
aniversário da fundação do Movimento para a Democracia (MpD) - 14 de março de
1991 -, Ulisses Correia e Silva afirmou que, após 15 anos de governo do Partido
Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), o país necessita de liberdade
política "total".
"Tem
de se consolidar a democracia e Cabo Verde, que tem condições para avançar
muito mais, pois o estado da liberdade ainda precisa de ser desenvolvido. Tem
de se garantir que a liberdade política seja total e que o Estado e o Governo
não sejam usados para criar diferenciação dos cidadãos", afirmou.
"A
questão da partidarização, do acesso às prestações sociais, as relações do
Estado com os cidadãos e com as empresas não podem ter motivações
político-partidárias. Ainda temos de caminhar para que Cabo Verde se torne um
país totalmente livre, que ainda não é", acrescentou Correia e Silva,
lembrando serem esses os valores defendidos pelo MpD quando foi Governo
(1991/2001).
Segundo
Correia e Silva, 2016 - altura em que haverá eleições legislativas, autárquicas
e presidenciais, por esta ordem -, é um ano "fundamental" para a
democracia cabo-verdiana, em que será preciso trazer "novas soluções e
protagonistas" e uma forma "diferente de exercício do poder".
"Só
assim poderemos acelerar o processo de desenvolvimento. Estamos num processo de
estagnação económica, de alguma descrença e com falta de energia para fazer
pulsar a sociedade", sustentou o também presidente da câmara da Cidade da
Praia.
"Tudo
isto demonstra que é chegado o momento de fazer o clique e, às vezes, só a
mudança, por si só, já é um grande ganho, porque cria novas relações de
confiança, liberta energias criadoras, traz novas políticas, novos
protagonistas, novos atores. É tudo isto que Cabo Verde precisa depois de 15
anos do mesmo Governo", defendeu.
Por
seu lado, Carlos Veiga, um dos fundadores do MpD e seu primeiro líder
(1991/2001 - regressando à presidência em 2010 para as eleições de 2011, altura
em que deixou novamente a liderança), disse à Lusa que a criação do partido
"parece que foi ontem", salientando que os valores e ideais de 1991
continuam atuais.
"Parece
que foi ontem. Todas aquelas ideias e valores que nos motivaram naquela altura
de regime de partido único fizeram sentido. Conseguimos aplicá-las na prática e
continuam a marcar o ritmo e a vida de Cabo Verde. 25 anos depois, o MpD continua
a ser um instrumento fundamental para fazer vivificar esses valores",
disse.
Sobre
o futuro, Carlos Veiga - primeiro-ministro entre 1991 e 2000, ano em que deixou
a chefia do executivo para concorrer contra Pedro Pires nas presidenciais de
2001, que viria a perder por uma diferença mínima de votos (12) - considerou-o
"promissor" para o MpD.
"Acredito
que, hoje, um número muito maior de cabo-verdianos verá que as políticas do MpD
deram resultado e que as políticas contrárias às do MpD não estão a dar resultado,
sobretudo em áreas como o emprego, crescimento, segurança, desenvolvimento
social e a vida e o rendimento das pessoas", sublinhou.
Apesar
de minoritário no Parlamento, com 32 dos 72 deputados - o PAICV tem 38 e a
União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID) os restantes dois -, o
MpD venceu as eleições autárquicas de 2012 (14 dos 22 municípios) e o candidato
presidencial que apoiou, Jorge Carlos Fonseca, foi eleito presidente na votação
de 2011.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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