Um
inquérito do Banco Mundial sobre a educação em Moçambique indica que o país tem
o índice mais baixo de competência dos professores, em comparação com outros
cinco Estados africanos.
"Do
grupo de sete países que participaram na nossa análise, Moçambique tem, ao
nível da competência dos professores, o nível mais baixo", disse Ezequiel
Molina, pesquisador e economista do Banco Mundial, durante a apresentação do
inquérito sobre os Indicadores de Prestação de Serviços (IPS) do setor da
Educação, realizada no dia 1 de abril em Maputo.
Este
estudo foi conduzido entre março e junho de 2014 pelo Banco Mundial, o Consórcio
de Pesquisa Económica Africana (AERC) e o Banco Africano de Desenvolvimento
(BAD), com o objetivo de analisar a qualidade da prestação de serviços básicos
nos países africanos. A pesquisa envolveu 1.006 professores e 1.731 alunos de
200 escolas moçambicanas.
Foram
realizados testes de língua, de matemática e de pedagogia e a pontuação média
dos professores moçambicanos foi de 29%, o pior desempenho em comparação com o
Quénia, a Tanzânia, a Nigéria, o Togo e o Uganda. O sétimo país que consta do
inquérito, o Senegal, não foi analisado nos testes de competência.
No
teste de língua, os docentes moçambicanos identificaram apenas dois em 20
erros; no de matemática, apenas 65% conseguiram subtrair 86-55.
O estudo conclui que os alunos moçambicanos estão em desvantagem em termos da qualidade do ensino, o que se traduz em baixos níveis de desempenho escolar. Os estudantes tiveram também a pior pontuação nos testes, com uma média de 24% contra os 53% dos outros Estados.
Educação
enfrenta grandes desafios
Em
declarações à DW África, Iris Uyttersprot, chefe do Programa de Educação da
UNICEF Moçambique, sublinhou que o país tem tido alguns sucessos e que a
educação se expandiu bastante nos últimos 10 anos. Contudo, ainda não se
consegue dar resposta ao grande número de alunos que todos os anos chegam às
escolas e outros problemas persistem: "É muito difícil para Moçambique
manter um balanço entre a quantidade e a qualidade. Temos problemas de
aprendizagem, abandono escolar, falta de professores, salas de aulas em
condições precárias… Estes são os problemas do setor e os desafios são muito
grandes."
Para
tentar dar resposta ao elevado número de alunos, os professores são formados em
apenas um ano, o que se revela muito pouco, segundo Uyttersprot.
Lucas
Murrona ensina Língua Portuguesa na Escola Secundária de Laulane, em Maputo, e
também considera que os professores não têm a formação que deveriam ter.
"Nos
últimos anos, a qualidade do ensino diminuiu bastante. Nestas formações,
sobretudo para professores de ensino primário, quem entra sem conhecimento,
volta a sair sem conhecimento. Este professor é o aluno de ontem, é aquele
aluno que foi passando sem competências e que depois se torna professor.
Sobretudo no ensino primário, nenhum aluno é retido, mesmo aqueles que não têm
conhecimentos acabam por transitar. Por isso, é normal encontrar alunos da oitava
classe que, diante de um teste, não conseguem ler", afirma.
Elevado
absentismo de alunos e professores
O
Banco Mundial demonstra ainda que Moçambique teve um fraco desempenho em
relação à presença dos professores na sala de aulas: em visitas não anunciadas,
45% estavam ausentes. Esta situação é agravada pela falta de comparência dos
próprios diretores das escolas.
Segundo
o documento, os alunos recebem apenas uma média de uma hora e 41 minutos de
ensino diariamente, e em 190 dias de aulas recebem apenas 74.
"Uma
percentagem significativa de professores moçambicanos tem desenvolvido este
hábito de não estarem presentes na sala de aula. Desta forma, acabam por
prejudicar, em certa medida, os alunos”, declara o professor Lucas Murrona.
A
taxa de absentismo também é alta nos estudantes: apenas 17% comparecem às
aulas, situação que é mais frequente no centro e no norte do país.
"Moçambique
precisa de se focar nos professores e diretores. Acho que é importante reforçar
a formação, o apoio didático e as condições de vida dos docentes", afirma
Iris Uyttersprot.
Professores
precisam de mais apoio
O
Banco Mundial considera que Moçambique tem investido na eficiência do sistema
educacional, mas que é necessário dar mais apoio à classe dos professores e
atualizar as competências dos pedagogos para melhorar o processo de ensino e
aprendizagem: "Os professores não podem ensinar sem saber e as crianças
não podem aprender sem professores competentes", afirma o investigador
Ezequiel Molina.
Apesar
dos problemas apresentados, o estudo considera que Moçambique está num bom
caminho, destacando que, comparativamente com os outros Estados, o país dispõe
de mais equipamentos. Quase 75% das escolas analisadas tinham os materiais
necessários e 69% das crianças tinham livros escolares.
Já
a UNICEF acredita que o Estado tem de investir mais para superar os desafios
que o setor da educação enfrenta. "O Governo está a investir entre 15 e
20% do Orçamento do Estado, mas se Moçambique quer desenvolver uma educação de
boa qualidade tem de investir entre 30 e 40%."
O
Banco Mundial também sugere que Moçambique aposte em medidas para melhorar a
educação, esperando que, nos próximos dois anos, o país registe progressos
neste setor.
Joana
Rodrigues / Lusa Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário