domingo, 27 de setembro de 2015

Portugal. Campanhas eleitorais destacam hoje mais o perfil dos candidatos do que ideias



As campanhas eleitorais em Portugal destacam hoje mais as características dos candidatos do que as propostas e ideias políticas que estes professam, ao contrário do que acontecia há 40 anos, de acordo com especialistas ouvidos pela agência Lusa.

Recuando 40 anos, altura do primeiro governo eleito democraticamente em Portugal, percebe-se que as campanhas eleitorais "mudaram significativamente", defendeu o politólogo André Freire, em declarações à agência Lusa.

Uma das mudanças apontadas por este professor universitário do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa é "uma certa 'desideologização', ou seja uma menor ênfase nas orientações ideológicas, nas propostas mais marcadas ideologicamente", cujo contraponto "é a ênfase nas características dos candidatos, as questões da competência, do legado do mandato anterior".

"Quanto menos relevo, em termos relativos, têm as questões das propostas políticas, maior ênfase se dá à competência dos candidatos, à capacidade de liderança, ao julgamento se as coisas correram bem ou mal e à ênfase na capacidade de fazer melhor por detrimento de se fazer diferente", explicou.

O professor universitário Vasco Ribeiro, da Universidade do Porto, defende mesmo que "a autenticidade do pós-25 de Abril [de 1974] acaba por dar lugar a um político com muito cuidado na imagem, mais ou menos no início da década de 1990, com a chegada das televisões privadas".

"O político já não está preocupado com a mensagem, com a governação, mas sim com a passagem da mensagem", disse, referindo que "nem os políticos, nem os jornalistas, nem os 'spin doctors' (especialistas em comunicação política) querem estas explicações sobre caminhos de governação, porque são chatas, não tem audiência, não vendem".

Vasco Ribeiro recorda ainda que "não havia tradição de meter a família na política", algo que se tem verificado nesta campanha, e que, para este especialista, é "o exemplo máximo negativo da personalização da mensagem".

A "personalização das campanhas eleitorais" é outro dos pontos apontados por André Freire.

"A proeminência dos candidatos, enquanto elemento de mensagem política, sempre existiu, mas tem vindo a ganhar relevo. Essa personalização passa muito, sobretudo nos grandes partidos, por uma centragem no candidato designado para primeiro-ministro", referiu.

Além disso, o partido, enquanto agente organizador e 'operacionalizador' da campanha, perdeu um certo terreno para o contributo de especialistas, de marketing e de opinião".

André Freire considera que esta alteração nas campanhas "é variável, acontece menos nos partidos de esquerda (BE e PCP/PEV) e mais nos outros, sobretudo os grandes, mas é uma tendência geral".

Outra das grandes mudanças, de acordo com os especialistas ouvidos pela Lusa, foi a introdução nas campanhas das "redes sociais e outros novos veículos de comunicação e interação entre eleitos e eleitores".

Lusa, em Notícias ao Minuto

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