As
campanhas eleitorais em Portugal destacam hoje mais as características dos
candidatos do que as propostas e ideias políticas que estes professam, ao
contrário do que acontecia há 40 anos, de acordo com especialistas ouvidos pela
agência Lusa.
Recuando
40 anos, altura do primeiro governo eleito democraticamente em Portugal,
percebe-se que as campanhas eleitorais "mudaram significativamente",
defendeu o politólogo André Freire, em declarações à agência Lusa.
Uma
das mudanças apontadas por este professor universitário do ISCTE -- Instituto
Universitário de Lisboa é "uma certa 'desideologização', ou seja uma menor
ênfase nas orientações ideológicas, nas propostas mais marcadas
ideologicamente", cujo contraponto "é a ênfase nas características
dos candidatos, as questões da competência, do legado do mandato
anterior".
"Quanto
menos relevo, em termos relativos, têm as questões das propostas políticas,
maior ênfase se dá à competência dos candidatos, à capacidade de liderança, ao
julgamento se as coisas correram bem ou mal e à ênfase na capacidade de fazer
melhor por detrimento de se fazer diferente", explicou.
O
professor universitário Vasco Ribeiro, da Universidade do Porto, defende mesmo
que "a autenticidade do pós-25 de Abril [de 1974] acaba por dar lugar a um
político com muito cuidado na imagem, mais ou menos no início da década de
1990, com a chegada das televisões privadas".
"O
político já não está preocupado com a mensagem, com a governação, mas sim com a
passagem da mensagem", disse, referindo que "nem os políticos, nem os
jornalistas, nem os 'spin doctors' (especialistas em comunicação política)
querem estas explicações sobre caminhos de governação, porque são chatas, não
tem audiência, não vendem".
Vasco
Ribeiro recorda ainda que "não havia tradição de meter a família na
política", algo que se tem verificado nesta campanha, e que, para este
especialista, é "o exemplo máximo negativo da personalização da
mensagem".
A
"personalização das campanhas eleitorais" é outro dos pontos
apontados por André Freire.
"A
proeminência dos candidatos, enquanto elemento de mensagem política, sempre
existiu, mas tem vindo a ganhar relevo. Essa personalização passa muito,
sobretudo nos grandes partidos, por uma centragem no candidato designado para
primeiro-ministro", referiu.
Além
disso, o partido, enquanto agente organizador e 'operacionalizador' da
campanha, perdeu um certo terreno para o contributo de especialistas, de
marketing e de opinião".
André
Freire considera que esta alteração nas campanhas "é variável, acontece
menos nos partidos de esquerda (BE e PCP/PEV) e mais nos outros, sobretudo os
grandes, mas é uma tendência geral".
Outra
das grandes mudanças, de acordo com os especialistas ouvidos pela Lusa, foi a
introdução nas campanhas das "redes sociais e outros novos veículos de
comunicação e interação entre eleitos e eleitores".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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