terça-feira, 25 de outubro de 2011

EM PORTUGAL TUDO É… COLOSSAL




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, considera que a privatização de um canal da RTP "é um erro colossal" porque representa a "amputação do serviço público de televisão" e "prejudica" os cidadãos.

Mais do que discutir o inevitável, as violações à lei, o quero posso e mando que caracteriza este, tal como o anterior, governo, prefiro falar daquela de Jornalismo, ou seja, da profissão que está em vias de extinção, sem que isso preocupe (antes pelo contrário) os donos do reino.

Todos este jornalistas, como sempre foi, é e será desejo dos diferentes poderes existentes em Portugal, sobretudo os políticos e os económicos, estão agora (os que ainda a têm) a pensar com a barriga.

Apesar de serem de Maio de 2009, não me esqueço que o Carlos Narciso (um dos mais probos jornalistas de língua portuguesa) dizia que não ia à feira do livro “porque o subsídio de desemprego é manifestamente curto para dar de comer à família e ainda conseguir comprar livros”.

Já em Fevereiro de 2006, o Carlos Narciso dizia em entrevista ao Notícias Lusófonas: “O mercado de trabalho está cada vez mais pequeno, mesmo se, eventualmente, hoje temos mais títulos de imprensa, mais canais de rádio e de televisão que há 20 anos atrás. A verdade é que há cada vez menos patrões… e o aproveitamento das chamadas sinergias de grupo tem vindo a atirar jornalistas para o desemprego”.

E acrescentava que “o que tenho observado, com bastante estranheza, é que os jornalistas têm estado silenciosos” (...) silêncio que “pode, de facto, revelar a cobardia que reina entre os jornalistas, o medo de perder o emprego caso revelem opiniões contrárias às do patrão”.

Carlos Narciso, considerado pelo Notícias Lusófonas (opinião que subscrevo) como “um excelente Jornalista, dos mais conhecidos e respeitados em todo o espaço lusófono”, dizia também que “há uma ideia romantizada do que é jornalismo e, nessa ideia, não entram conferências de imprensa enfadonhas, passar meses e anos a escrever pequenas notícias, a frustração de ver oportunidades passar ao lado, a mediocridade premiada, enfim, o dia-a-dia de muitas redacções”.

Também em Maio de 2009, Alfredo Maia salientava que ainda que a liberdade de imprensa esteja, "do ponto de vista formal, assegurada", há "problemas graves" no jornalismo português.

Há? Quem diria. Ouvir o presidente de um sindicato dizer que o que se passa nas ocidentais praias lusitanas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos, é apenas “grave”, é como querer tapar o Sol com uma peneira... não tendo sequer peneira.

Alfredo Maia salientava então, e o discurso continua com uma colossal actualidade, que a "ameaça de desemprego" que paira sobre alguns conjuntos de profissionais e a "precariedade", que atinge "novos e antigos profissionais", são os principais desafios à "autonomia" da imprensa hoje em dia.

Compreendo que como jornalista assalariado e, portanto, igualmente sujeito à ameaça de desemprego, o Alfredo Maia não possa dizer mais. Fica, contudo, um travo amargo porque de um presidente de um sindicato esperava mais. Muito mais.

Já para o então sub-director do jornal Público, a falta de liberdade de expressão passa, no Ocidente, muito mais, por um "tipo de controlo de opinião, que é feito de uma forma muito mais subliminar".

Segundo Amílcar Correia, esse controlo acontecia (acontece) sob a forma de "condicionamento económico dos órgãos de informação", pela "pressão de fontes" e anunciantes, que "num cenário de alguma crise nos media", podem conseguir ter "alguma influência no editorial das respectivas publicações".

Os leitores aqui do Alto Hama certamente que se lembram de já ter lido algo semelhante. E de o ter lido desde há muito tempo e por várias vezes.

Sobre os eventuais excessos derivados da "falta de sensatez e de bom senso" dos jornalistas, Amílcar Correia entende que "a ausência da liberdade de expressão é sempre pior", portanto, "é preferível o excesso de liberdade de imprensa à total ausência de liberdade de expressão".

Aliás, todos sabem que, no reino lusitano, não faltam exemplos de casos onde os jornalistas são “voluntariamente obrigados” a pensar com a barriga.

"Só com jornalistas usando plenamente os seus direitos e garantias existe jornalismo verdadeiramente livre e responsável", destacava Alfredo Maia, certamente pensando nas centenas de jornalistas que nos últimos anos foram obrigados a ir para o desemprego.

Tudo, é claro, a bem de uma nação que acaba de instituir a escravatura como forma de, dizem eles, evitar a falência.

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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