Macau, China, 19
nov (Lusa) - O jornalista e investigador Fernando Sales Lopes defendeu hoje que
nomes da cultura de Macau como Deolinda da Conceição, a primeira mulher
jornalista do território, deveriam ser estudados nas escolas locais.
"Todos os
autores de Macau, sejam poetas, sejam prosadores, para mim deveria ser
obrigatório que os alunos conhecessem e estudassem os seus autores como o fazem
sobre os autores de Portugal ou de outro sítio qualquer" dependendo da
escola, afirmou o investigador da cultura de Macau, na evocação do centenário
do nascimento de Deolinda da Conceição.
Fernando Sales
Lopes justifica o seu pensamento com o facto dos autores de Macau "não
serem menores do que os outros" e de serem "importantes para a
formação das pessoas".
"dentro da
própria comunidade macaense estes autores enformam a identidade macaense e é
importante as pessoas saberem que têm uma cultura própria que devem acarinhar e
conhecer", salientou.
"Não é haver
uma ignorância generalizada das coisas passando-se ao lado, como antes do 25 de
abril quando as pessoas nas ex-colónias aprendiam as linhas férreas e os rios
apesar de nunca terem ido a Portugal e depois não sabiam o que se passava à
porta delas", disse.
Nascida em Macau a
07 de julho de 1913, Deolinda da Conceição foi a primeira mulher a exercer o
jornalismo em Macau.
Para o jornalista e
investigador, Deolinda da Conceição, além da obra que deixou como "Cheong
Sam - A Cabaia", é uma figura local que tem importância muito grande
porque foi a primeira macaense/portuguesa jornalista que deixou ainda
"obra escrita naquilo que foi a sua intervenção no jornal de Notícias de
Macau, onde trabalhou como secretária de redação, redatora e coordenadora do
suplemento feminino, que fez durante alguns anos".
Sales Lopes
descreveu como uma "lutadora" numa sociedade "arcaica,
conservadora e hipócrita" a mulher que "viveu entre guerras" com
a invasão da China onde estava radicada e, mais tarde, de Hong Kong, para onde
se mudou em processo de divórcio do primeiro marido e com dois filhos pequenos.
"Ainda por
cima escolheu uma profissão que estava na altura 'reservada' a homens, pelo
menos em Macau", destacou.
O investigador
Sales Lopes apontou ainda em Deolinda da Conceição "uma visão do mundo
totalmente distinta da maioria das pessoas", própria de "uma cidadã
culta e autodidata".
Deolinda da
Conceição acabaria por morrer em Hong Kong com 43 anos, em maio de 1957, depois
de um período passado em Portugal.
JCS // APN - Lusa
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