Hong Kong, China,
21 nov (Lusa) - A Amnistia Internacional (AI) qualificou hoje de
"escravatura moderna" a condição em que vivem e trabalham milhares de
empregadas domésticas em Hong Kong.
As jovens são
exploradas pelas agências de recrutamento atraídas pela promessa de altos
salários, afirma a organização de defesa dos direitos humanos no mais recente
relatório publicado na antiga colónia britânica.
Na realidade,
refere a AI, as jovens mulheres veem-lhes confiscados os seus documentos de
identificação e serem-lhes extorquidas avultadas somas por essas mesmas
agências pelas suas indignas condições de trabalho.
O estudo, sob o
título "Exploradas pelo lucro", assinala como as agências de recrutamento
restringem a sua liberdade de movimentos, recorrendo ao uso de violência física
e doméstica, submetendo-as a longas jornadas de trabalho ou limitando-lhes a
comida.
Segundo o
relatório, a maior parte das mulheres entrevistadas afirmou que os seus documentos
de identificação se encontram nas mãos das agências ou das famílias que as
contratam, enquanto um terço disse não ter autorização para sair das casas para
as quais trabalham.
"A partir do
momento em que as mulheres aceitam assinar o contrato para trabalhar para Hong
Kong, ficam presas numa rede de exploração que, em alguns casos, se assemelha à
escravatura moderna", sublinhou Norma Kang Muico, especialista de direitos
dos imigrantes da Ásia-Pacífico, à Amnistia.
Segundo os dados da
AI, uma em cada três inquiridas não tem autorização para sair da casa do patrão
e inúmeras afirmaram sofrer de fome, de longas jornadas de trabalho - em média
17 horas por dia -, sem um dia de descanso, subsistindo com salários
miseráveis.
Há ainda vários
relatos de violência - psicológica ou física, incluindo abusos sexuais - de
acordo com o relatório da AI, que inclui depoimentos.
"Bateu-me por
trás e arrastou-me para o quarto. Fechou-me à chave e continuou a agredir-me e
a dar-me pontapés. Acabei com marcas no corpo todo e a sangrar", disse à
AI, uma das vítimas maltratadas pela família que a contratou.
Outra vítima, de 26
anos, proveniente de Jacarta, maltratada fisicamente com regularidade, contou
um dos episódios: "Uma vez a dona da casa mandou os dois cães morderem-me
enquanto ela filmava com o seu telemóvel. Fui mordida uma dúzia de vezes. Ela
não parava de ver [o vídeo] e de se rir".
O relatório acusa a
Indonésia e Hong Kong de passividade relativamente ao dossiê.
O estudo tem por
base entrevistas realizadas a 97 empregadas domésticas indonésias, cujos
resultados foram cruzados com os de uma sondagem levada a cabo pela União de
Trabalhadores da Indonésia, a qual contou com uma amostra de aproximadamente
mil mulheres.
Atualmente, Hong
Kong conta com cerca de 300 mil empregadas domésticas, a maioria das quais
oriundas da Ásia, sobretudo das Filipinas e da Indonésia.
DM // JCS - Lusa
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