quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Portugal: O NAUFRÁGIO DE CRATO

 

Eduardo Oliveira Silva – jornal i, opinião
 
O ministro está a afundar-se, para seu mal e do país
 
Quando entrou para o governo era o mais velho dos seus membros. Ao seu nome associava-se prestígio, como acontecia por exemplo com Francisco José Viegas, que entretanto desertou.
 
Sensato, cordato, competente, e também um reputado matemático e professor universitário, esperava-se de Nuno Crato que concretizasse o que nunca um dos seus antecessores tinha alcançado: uma política simultaneamente coerente e minimamente consensual.
 
A missão era quase impossível, mas, dado o perfil, admitia-se a hipótese de êxito relativo. No entanto, nada deu certo e a culpa não tem a ver com a crise e a falta de meios. Crato conseguiu, rapidamente, mobilizar contra ele todos os agentes do ensino, começando pelos professores, que promoveram as maiores manifestações de sempre.
 
Basta, aliás, olhar para o que está acontecer nos últimos dias para se ter uma ideia clara de que o ministério e a política de Nuno Crato metem água por todo o lado. Verifica-se que, não querendo fazer uma revolução mas uma reforma tranquila, não fez nem uma coisa nem outra.
 
Os reitores, através do seu conselho, decidiram recentemente num gesto inédito e simbólico cortar as pontes de diálogo e acusar o ministro de violar a sagrada autonomia universitária. De facto, as coisas estão péssimas, tanto no ensino superior universitário como no politécnico, cuja frequência é hoje impossível para quem não disponha de meios económicos. A ideia de gratuidade sempre foi um tanto simbólica, mas agora morreu.
 
Nos patamares anteriores à universidade ou na área especial, a situação é ainda mais grave. Estão instalados o caos e a ineficácia, salvo alguns casos de excepção.
 
A ideia dos contratos de autonomia está já ferida de morte, embora uma em cada quatro escolas públicas queira aderir. Como ontem se acentuava num trabalho desenvolvido neste jornal, os limites da lei e das disponibilidades financeiras condicionam as decisões e desiludem os responsáveis pelos agrupamentos que avançaram para o acordo.
 
Em contrapartida, os agrupamentos tal qual estão revelam-se em regra impossíveis de gerir, porque o afastamento em relação ao terreno é excessivo e a intervenção directa ao nível da escola sempre foi uma forma de gestão mais eficaz.
 
Os contratos com o ensino privado suscitam desconfianças e promiscuidades inimagináveis, como demonstrou um recente trabalho da TVI.
 
No meio de uma situação sempre instável, Portugal conseguiu, mesmo assim, preparar ao longo dos anos uma parte significativa da sua juventude e dar aos mais velhos alguns incentivos para que voltassem a estudar. Mesmo opções controversas como as Novas Oportunidades tinham alguma utilidade e recuperaram auto-estimas. Hoje vivemos numa floresta de equívocos. Não se sabe para onde vai o ensino e sobretudo percebe-se que os caminhos que Nuno Crato trilhou estão bloqueados.
 
É pena, porque Crato tinha o perfil certo para a função e à partida foi invulgarmente bem aceite por um sistema que, além de altamente corporativo, transporta interesses específicos e não raras vezes antagónicos, sendo dominando por sindicatos e ideologias políticas.
 
Não é certo que algum dia alguém consiga fazer melhor, mas é certo que Nuno Crato se está a afundar, o que é mau para ele mas sobretudo para os portugueses.
 
Vergonha Pepsi: Vamos trucidar Portugal. Foi esta a mensagem que a marca promoveu ao colocar um boneco lembrando Ronaldo em cima de uma linha de comboio. Uma só resposta: beber Coca-Cola!!!
 

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