Uma vez mais a
história decorre em espiral. O regime parlamentar-franquista que Suárez
contribuiu de forma significativa para delinear e pôr em marcha, ainda que o
seu desenho original tenha sofrido certamente diversas e importantes
modificações, entre outras as que foram impostas pelo pronunciamento militar de
23 de Fevereiro de 1981 (23F), iniciou a sua marcha com uma brutal ofensiva
repressiva contra o movimento popular em geral e contra os movimentos políticos
em particular que, apesar das traições e/ou claudicações de uma parte
importante da chamada oposição ao franquismo, continuavam defendendo a
necessidade de uma ruptura democrática com o Regime, corrupto e criminoso, que
era a Ditadura Franquista.
Essas forças
políticas, que não eram nem poucas nem irrelevantes como nos quiseram fazer
crer ao longo deste tempo, foram mantidas na ilegalidade durante anos e sob uma
pressão repressiva permanente sem excluir nenhum meio: detenções; processos e
prisão; torturas e, quando necessário, assassínios exemplares.
Adolfo Suárez, que
não era o pior de todos quanto impulsionaram a “chamada transição”, faleceu
após uma longa enfermidade que o foi deteriorando física e intelectualmente.
Pode estabelecer-se
um claro paralelismo entre a evolução vital de Suárez e a do Regime que
contribuiu para pôr em marcha.
O Regime monárquico
de 78 nunca foi bom, trazia na sua genética todas as taras que, tal como era
previsível, se desenvolveram como autênticos tumores e metástases nos últimos
anos: corrupção, especialmente vinculada ao sistema político; autoritarismo e
repressão; negação dos direitos das mulheres e dos trabalhadores; negação dos
direitos dos Povos; chefia do Estado imposta por Franco na figura do estroina
Juan Carlos… Actualmente este, o Regime, está também em período terminal. Não
podemos predizer uma data exacta para a sua queda mas, observando os
indicadores da sua evolução interna e externa, pode concluir-se que lhe restam
muito poucos anos de existência.
Para se impor no
seu início o Regime recorreu à repressão pura e dura sobre aqueles importantes
sectores que após a morte de Franco continuavam a defender a ruptura
democrática. Nas últimas fases da sua existência/sobrevivência o Regime recorre
também à repressão pura e dura como único discurso.
Há entretanto uma
diferença essencial entre aquele início de ciclo em cuja inauguração participou
Adolfo Suárez e este final de ciclo. Naquele momento tinham algo para “vender”,
a “democracia à espanhola”, naturalmente com todas as limitações que eram já
evidentes naquele momento, como o esquecimento das vítimas do fascismo espanhol
na guerra e no pós-guerra ou a imposição do Bourbon. Mas diziam e alguma gente,
com mais ou menos resignação acreditava, que as coisas iriam melhorando.
Hoje já não lhes
resta nenhuma “ilusão por vender”. Apenas uma minoria social que não chega aos
25% do conjunto da população do Estado confia no futuro que este Regime lhes
pode proporcionar.
Um Regime sem
legitimidade social cai, mais cedo ou mais tarde, se o movimento popular o
reclama. Tal como o oxigénio a um doente terminal, a repressão pode
circunstancialmente prolongar a sua agonia, mas simultaneamente cria-lhe novas
contradições e desafeições, tal como estamos vendo nestes dias.
A repressão
político-policial posta em marcha como único discurso face à multitudinária
mobilização do 22 de Março (22M) em Madrid, na qual centenas de milhares de
trabalhadores, pela primeira vez nas últimas décadas, se manifestaram em Madrid
representando os diversos Povos do Estado entre os quais Castilla, não é mais
do que a expressão de que o actual Regime saído da transição está num franco
processo de deterioração irreversível que o conduzirá à morte.
Depende do
movimento popular que esse final seja o mais rápido possível.
De algumas
instituições do Estado, especialmente das Forças de Ordem Pública, depende que
esse final seja o menos traumático possível. Neste sentido fazemos um apelo às
forças de ordem pública para que não sigam as instruções criminosas da sua
direcção política, que está nas mãos de corruptos, especuladores e
vende-pátrias.
Fazemos um apelo a
todos os membros das Forças de Segurança do Estado a que se ponham do lado do
Povo trabalhador e a favor do início de autênticos processos democráticos constituintes
que lancem as bases de um futuro de PROSPERIDADE, DIGNIDADE e SOBERANIA para o
nosso Povo.
Izquierda Castellana
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