quarta-feira, 9 de julho de 2014

Banco brasileiro afirma que empréstimo da PT ao GES "viola boa governação"




Granadeiro sob pressão

Filipe Paiva Cardoso – jornal i

Opção da PT de ajudar GES pode implicar que, a troco de todos os activos portugueses da PT, accionistas lusos fiquem com 5,7% da Oi

"Vivemos um momento mágico da relação entre Portugal e o Brasil", comentou ontem Mário Vilalva, embaixador brasileiro em Portugal. Mas nem todos pensarão assim, sobretudo nas telecomunicações e nas instituições públicas brasileiras.

Ontem foi a vez do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento, detido pelo Estado brasileiro, vir a público criticar a Portugal Telecom e os empréstimos de 900 milhões de euros à família Espírito Santo. Para o BNDES, estas foram "operações inconsistentes com padrões mínimos de boa governança governativa". O BNDES é accionista da Telemar Participações, outra das empresas envolvidas na absorção dos activos portugueses da PT pela operadora brasileira Oi. Em comunicado, o banco estatal salientou a respeito das "aplicações daquela empresa [PT] em títulos de subsidiária do Grupo Espírito Santo", que não só violam os padrões mínimos de boa governança, como irá solicitar "informações detalhadas sobre a referida aplicação", sublinhando que "não considera nenhuma alternativa que não seja a preservação dos interesses dos accionistas da Oi S/A, ao mesmo tempo que renova a sua confiança na actual gestão da companhia".

A decisão da administração da Portugal Telecom de ceder 900 milhões de euros a curto prazo à família Espírito Santo foi tomada sem o consentimento dos accionistas da Oi, que não foram sequer informados posteriormente nos vários documentos trocados entre Lisboa e o Rio de Janeiro sobre a fusão actualmente em curso das duas operadoras.

Além da absorção da Portugal Telecom pela Oi estar a começar com dois pés esquerdos, há ainda que contar com o incumprimento da família Espírito Santo em pagar o que deve à Portugal Telecom - algo que os analistas dão como praticamente certo. A empresa liderada por Henrique Granadeiro terá que absorver perdas de quase 900 milhões de euros e, assim, fará com que os seus accionistas fiquem com uma fatia ainda mais pequena da operadora brasileira que absorveu todos os activos portugueses da Portugal Telecom, transferindo o centro de decisões do Meo para o Rio de Janeiro.

NEM 6% DA SUPER-OPERADORA 

A operação de integração dos activos da Portugal Telecom na Oi foi vendida como uma decisão que visava criar uma "mega-operadora luso-brasileira". Porém, se já nos moldes iniciais este rótulo é discutível, o contágio da família Espírito Santo à Portugal Telecom pode reduzir ao ridículo a presença portuguesa na "mega-operadora luso-brasileira". É que segundo contas da agência Estado, através da Broadcast, o eventual calote de Ricardo Salgado e da restante família Espírito Santo poderá levar a uma reavaliação dos activos da Portugal Telecom e, logo, reduzir a sua participação na Oi. A PT, que negociou 38% da Oi a troco de todos os seus activos, poderá agora ficar com apenas 20% da Oi. Isto implica que os accionistas portugueses da PT, que iriam ter um peso de 10,7% na Oi - porque detêm 38% da PT -, poderão agora ficar a reduzidos a metade: 5,7% da Oi.

Leia mais em jornal i

Sem comentários:

Mais lidas da semana