Pedro
Bidarra – Dinheiro Vivo, opinião
O
Presidente da República envergonhou-me durante a feira da maçaroca. Ouvi-o
falar com sobranceria da Grécia e dos seus novos ministros e fiquei com
vergonha. Apeteceu-me esconder o PR no quarto dos fundos, longe das visitas.
Lembrei-me da Maximiliana, a personagem do Herman José no Tal Canal, que
passava a vida a ser escondida pela filha para a poupar a embaraços.
E
não foi só vergonha, foi também arrependimento.
Em
1996 fiz a campanha de Cavaco Silva para as presidenciais. Os meus esforços, e
de outros, não impediram a derrota, era impossível naquele contexto, mas
proporcionaram-lhe um resultado digno (46%) quando se esperava uma humilhação
nas urnas. E para quê? Para isto? Na altura foi só um trabalho remunerado,
profissional, como o de um médico que não se recusa a tratar um doente, mas,
olhando para trás, quem me dera tê-lo deixado morrer politicamente, ou, pelo
menos, não o ter ajudado a renascer. Estou muito arrependido.
Não
foi só o que ele disse - aquela dos portugueses estarem a pagar aos gregos foi
repetida com fervor xenófobo em todos os fóruns radiofónicos do dia seguinte -,
foi também a forma cínica e sobranceira como falou de um governo recém-eleito
que tenta defender o seu interesse nacional, e que, até agora, não teve uma má
palavra ou gesto para com Portugal - a única razão, a meu ver, que justificaria
um comentário diplomaticamente desagradável. Ao contrário, já ouvimos e lemos
muitas más palavras de políticos do Norte sobre o Sul, sem que o PR tenha feito
qualquer observação. Ser forte com os fracos e fraco com os fortes é marca dos
cobardes. Que vergonha me dá.
Paulo
Portas, com uma elevação que escapou ao PR, explicou a estratégia do governo
português: "... O melhor para todos é que a Europa tenha a Grécia no
Euro... isto não se confunde com incorrectas e apressadas tentativas de
associar o caso de Portugal com o da Grécia. O interesse ... de Portugal é
explicar com toda a clareza que são situações completamente diferentes. E o
interesse nacional deve prevalecer sobre qualquer espécie de solidariedade de
natureza ideológica".
Percebe-se
a estratégia ainda que dela possamos discordar. O que não se aceita é que o
Presidente da República e o seu limitadíssimo Primeiro-Ministro Passos Coelho,
tenham iniciado uma campanha de xenofobia helénica. A razão só pode ser o medo.
Embora
Portugal não seja claramente a Grécia, apesar das semelhanças, e haja espaço
para uma estratégia própria, eles têm medo que os portugueses se comportem como
gregos deixando-se levar pela onda de extrema-esquerda. Aquelas declarações
nada têm que ver com a negociação em Bruxelas - que será, como de costume, de
cócoras - mas com o medo de uma nova abrilada; desta vez pelo voto. Denegrir os
dirigentes gregos como lunáticos incompetentes (tomara ao economista Cavaco ter
o curriculum de Varoufakis) é uma estratégia de política interna alavancada na
criação de um inimigo externo que se culpará em caso de colapso da política
seguida. Mas é uma indignidade para o Presidente da República. Uma vergonha.
Sem comentários:
Enviar um comentário