A maior derrota da
esquerda é a inexistência de grandes mobilizações contra a política de
austeridade, aplicada tanto pela direita, como pela social-democracia.
Emir Sader – Carta Maior
A França era, nas
palavra de Engels, o “laboratório de experiências políticas, berço de 1879,
1848, da Comuna de Paris de 1871, no século passado da Frente Popular, das
barricadas de 68.
A maior virada política e ideológica operada na Europa foi exatamente na
França, que passou de núcleo mais progressista a bastião mais conservador do
continente.
Perry Anderson analisou de maneira magistral essa triste virada no seu artigo
“O pensamento insosso” (La pensée tiède, na versão francesa, Ed. Seuil;
Degringolade e Union sucreé, na versão original, London Review of Books, 2 e
23/9/2004).
As ultimas eleições francesas confirmam aquilo a que fomos tristemente nos
acostumando: os trabalhadores franceses tem na Frente Nacional seu partido
majoritário. Um partido que prega não apenas a saída do euro – posição
defensável para a esquerda também -, mas a proibição de entrada de imigrantes,
a pena de morte, entre outras de suas posições de extrema direita.
Antes a classe operária francesa era ou socialista ou comunista,
invariavelmente. Agora, instrumentalizada pelo chovinismo contra os imigrantes,
se passou para a extrema direita. Na virada à direita de todo o continente
europeu e no enfraquecimento geral da esquerda, este é o seu aspecto mais
dramático.
Desde que a crise econômica mais prolongada e profunda do capitalismo desde
1929 eclodiu, tendo a Europa como epicentro, durando já mais de 7 anos, a maior
derrota da esquerda é a inexistência de grandes mobilizações populares contra a
politica generalizada de austeridade – aplicada tanto pela direita, como pela
social democracia – e, como corolário, o fortalecimento ainda maior da extrema
direita na crise e não da esquerda.
Alguns fatores foram determinantes nesses retrocessos, entre eles o fim da URSS
e o enfraquecimento dos partidos comunistas, assim como a adesão da social
democracia ao neoliberalismo. Mas na crise atual surgiram movimentos de jovens
na Espanha, na Inglaterra, que porem não tiveram nem continuidade, nem
repercussão na massa trabalhadora dos seus países.
A derrota de governos social-democratas – como nos casos da Espanha, de
Portugal – arrasta consigo também a extrema esquerda, que se recupera
lentamente depois, mas sem capacidade de se tornar força hegemônica. A
substituição de governos conservadores – como no caso desses dois países ou da
Inglaterra ou da Alemanha – fica dependendo do que ocorra com os partidos
social democratas e sua aliança ou não com setores mais à sua esquerda.
A esquerda europeia, berço da esquerda do século XX, ja não existe como tal.
Nem os PCs, nem os partidos socialistas, tampouco a extrema esquerda –
trotskistas ou outras variantes – tem demonstrado força para recompor a
esquerda europeia. A construção da União Europeia, por sua vez, ao se centrar
na unificação monetária, constituiu-se numa armadilha, de que a esquerda não
sabe como sair e que a extrema direita explora, como única corrente que prega
contra o euro.
As eleições europeias de maio deste ano devem confirmar o fortalecimento da
extrema direita, um altíssimo nível de abstenção e o enfraquecimento das outras
correntes políticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário