Pedro
Rainho – jornal i
Há
um ano, o líder centrista fez antever eleições antecipadas ao anunciar a sua
demissão
"O
Paulo demitiu-se".
"Qual
Paulo?"
Só
existe um "Paulo" nomeado desta forma no CDS. Não era possível não
perceber a mensagem. Mas a reacção de João Almeida - então porta-voz do partido
- à frase de Hélder Amaral espelha bem a surpresa com que o pedido de demissão
de Paulo Portas foi recebido dentro do próprio CDS. Os dois deputados
centristas participavam numa sessão da comissão parlamentar de Economia quando
as notícias começaram a cair, uma atrás da outra, nas várias edições online dos
jornais e das rádios. "O pior podia ter acontecido" depois desse 2 de
Julho, admite Amaral. Foi há um ano.
A
nomeação de Maria Luís Albuquerque foi a gota de água para Portas. Há muito que
o parceiro menor da coligação se sentia quase uma figura de corpo presente, e a
escolha do primeiro- -ministro para a vaga deixada por Vítor Gaspar nas
Finanças levou o líder centrista à ruptura final. Ou quase. Acabou por ser
mesmo revogável.
"É
sempre mais difícil para o partido mais pequeno" gerir a correlação de
forças dentro de um governo de coligação, explica Hélder Amaral. Há uma
"tensão útil e permanente" em governos de vários partidos, mas esse
estado de "conflito" pode até ser, na opinião do dirigente centrista,
"regenerador".
Terá
sido esse o caso? Quem chegasse agora a Portugal e observasse de fora o xadrez
da política nacional à direita teria, no mínimo, dúvidas. Tal como há um ano, o
CDS volta a testar o seu peso na coligação. Apesar dos apelos públicos feitos
pelo PSD nas últimas semanas, Portas não se compromete com uma nova coligação
para 2015 enquanto não conhecer as linhas com que Passos e Maria Luís pretendem
coser, entre outras questões fundamentais, o Orçamento do Estado para o próximo
ano.
Será
apenas mais uma prova da "tensão útil", como se lhe refere Hélder
Amaral. Doze meses depois "tudo mudou para melhor, a relação entre os dois
partidos melhorou substancialmente e a coligação saiu reforçada", diz o
centrista. A "angústia" dos dias que se seguiram ao pedido de
demissão de Paulo Portas contrastam com a "serenidade" que Amaral diz
existir hoje na maioria. Actualmente, acrescenta, "nenhum militante perde
o sono quando há tensão no governo". Houve uma "maturação" na
relação dos dois parceiros.
Mas
em Julho de 2013 Paulo Portas dramatizou o discurso. Os portugueses ouviram-no
apresentar-se "irrevogavelmente" fora do governo. Tinha ido "até
ao limite" das suas forças. Um país inteiro ouviu as 14 frases que
proferiu, palavra por palavra, com a certeza em mente de que o país caminhava
para eleições antecipadas. Continuar não teria sido "politicamente
sustentável" nem "pessoalmente exigível", resumiu o então
ministro dos Negócios Estrangeiros - esse que era, aliás, outro problema, a
posição de terceiro plano que Portas ocupava na orgânica do executivo.
Quase
tudo mudou no último ano. Dentro do governo o líder centrista reforçou a sua
posição, levando Passos a reeditar a figura de vice-primeiro-ministro (só Rui Machete,
que ocupou o lugar de Portas na diplomacia, tinha recebido esse estatuto, em
1985, ainda que por meros dias). Portas acabou, ainda, a coordenar o diálogo do
governo com a troika, ao lado da nova ministra das Finanças. Com a
reorganização veio maior protagonismo político. Mas, ao dar o segundo lugar da
coligação ao centrista, Passos também amarrou o parceiro de coligação aos
destinos do governo, esvaziando a margem de contestação interna de que o
partido desfrutou nos primeiros dois anos da legislatura.
Dentro
do CDS o gesto foi compreendido. Os militantes reelegeram-no líder, com Portas
a dar parcas explicações perante o partido. Para todos os efeitos, "pagou
um preço elevado" pela sua tomada de posição, e seria até
"injusto", diz Hélder Amaral, que alguns portugueses não tivessem
ainda compreendido as suas razões. "Os portugueses deviam dizer muito
obrigado" a Paulo Portas, resume o dirigente centrista.
Foto:
Rodrigo Cabrita
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